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Milton e as teorias conspiratórias
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Milton e as teorias conspiratórias

Chega a ser ridículo e estapafúrdio alguém pensar que um furacão pudesse ser controlado como uma "arma climática" que distinguisse entre eleitores republicanos e democratas quais deles seriam atingidos e quais escapariam ilesos
Tipo Opinião
FURACÃO Milton deixou pelo menos 27 pessoas mortas (Foto: NASA via Getty Images/AFP)
Foto: NASA via Getty Images/AFP FURACÃO Milton deixou pelo menos 27 pessoas mortas

O termo Haarp foi um dos mais buscados no Google ao longo da última semana nos Estados Unidos. Ele é a sigla de High Frequency Active Auroral Research Program (Programa de Pesquisa de Aurora Ativa de Alta Frequência, em tradução livre), um projeto financiado pela Força Aérea e pela Marinha americanas em parceria com a Universidade do Alasca.

Resumidamente, de acordo com o site do projeto, o objetivo dele é entender a interação entre ondas de rádio com elétrons e íons na ionosfera (localizada entre 80 e 640 km acima da superfície da Terra). Tais estudos permitiriam entender melhor e aprimorar sistemas de comunicação como wi-fi, internet móvel e geolocalização. E, claro, sistemas de vigilância, o que explica o papel do Pentágono no projeto.

Mas, afinal, por que esta sigla esteve tão em alta nas ferramentas de busca? Enquanto o furacão Milton passava pela Flórida deixando rastros de destruição e pelo 27 menos pessoas mortas, ganhava tração em redes sociais como o X e o TikTok a desinformação de que o fenômeno climático fora criado pelo Haarp e estava sendo secretamente controlado pelo governo americano.

Tudo bem que a frequência cada vez maior de extremos climáticos é explicada pela ação do homem no meio ambiente, mas não há tecnologia ou nada inventado pelo ser humano capaz de criar ou controlar furacões.

Mas por que raios uma teoria conspiratória relativamente simples de ser derrubada esteve em evidência em meio à tragédia do Milton na Flórida? O teor de muitas das postagens desinformativas já fornece as respostas.

Nelas, é espalhada a teoria falsa de que Joe Biden e Kamala Harris estariam por trás da passagem do fenômeno climático pela Flórida, estado no qual Donald Trump é favorito a vencer nas eleições de 5 de novembro. Uma ideia sem pé nem cabeça. Chega a ser ridículo e estapafúrdio alguém pensar que um furacão pudesse ser controlado como uma “arma climática” que distinguisse entre eleitores republicanos e democratas quais deles seriam atingidos e quais escapariam ilesos.

Ou seja, a extrema-direita conspiracionista mais uma vez atuando com desinformação como ferramenta para interferir nas eleições. Assim foi em 2016 na primeira eleição de Trump e no referendo do Brexit. Fórmula repetida pelo candidato republicano em 2020 quando contestou com falsas alegações a vitória de Joe Biden. E assim está sendo este ano, com a máquina de mentiras nas redes sociais ligada a todo vapor faltando menos de um mês para o pleito.

Em menor escala, o Haarp já fora mencionado por esses perfis de extrema-direita durante a passagem do furacão Helene pela mesma Flórida há pouco menos de um mês. Também foi enganosamente citado em maio de 2024 como sendo o causador das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Apenas uma das muitas desinformações que correram nas redes sociais no período da tragédia no Sul brasileiro.

Nobel e o tempo de hoje

O turco-americano Daron Acemoglu e os americanos Simon Johnson e James A. Robinson foram anunciados ontem como vencedores do prêmio Nobel de Economia. O trio foi laureado pelas pesquisas sobre como as desigualdades de renda e um estado de direito deficiente são fatores determinantes para impedir a prosperidade de um país.

Na última semana, a organização japonesa Nihon Hidankyo foi escolhido para o Nobel da Paz de 2024. O grupo é formado por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki e atua pela extinção das armas nucleares.

Ambos os prêmios refletem bem alguns dos principais problemas da atualidade. O aumento das desigualdades de renda é central para explicar a ascensão do extremismo e o menor diálogo entre os países. Enquanto isso, guerras na Europa e no Oriente Médio trazem de volta a sombra de um conflito nuclear que pode resultar em uma destruição da humanidade como conhecemos. 

 

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