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Putin não vem, Lula não vai
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Putin não vem, Lula não vai

Presidente russo não participará do G20 no Rio em novembro por conta das restrições impostas pelo TPI e para poupar o Brasil de um constrangimento diplomático
Tipo Opinião
PUTIN tem mandado de prisão aberto pelo Tribunal Penal Internacional (Foto: Evgenia Novozhenina / AFP)
Foto: Evgenia Novozhenina / AFP PUTIN tem mandado de prisão aberto pelo Tribunal Penal Internacional

Não será em 2024 que Lula encontrará Vladimir Putin pela primeira vez desde que voltou ao Palácio do Planalto. O presidente russo confirmou que não estará em novembro no Rio de Janeiro para o encontro do G20. O mandatário brasileiro cancelou viagem a Kazan, onde começa nesta terça-feira a 16ª Cúpula do Brics, após sofrer um acidente doméstico horas antes do embarque. Portanto, e é importante destacar, não há correlação entre os dois cancelamentos de viagem e Lula participará remotamente do evento do Brics.

A ausência do presidente brasileiro no encontro do grupo dos emergentes pode ser analisado sob duas perspectivas. Por um lado, Lula é poupado do potencial desgaste que um encontro com Vladimir Putin poderia ocasionar.

Nas situações em que foi instado a se manifestar sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula nem sempre conseguiu fazer falas diplomaticamente exitosas. Embora sempre tenha insistido em uma solução de paz negociada, sua posição de não fazer uma defesa incondicional de Kiev sempre foi encarada por países ocidentais como mais benevolente a Moscou. Mesmo com o Itamaraty reconhecendo oficialmente que a Rússia tenha violado o direito internacional ao invadir o território ucraniano.

Por outro lado, um segundo aspecto é que a ausência de Lula no Brics enfraquece a posição brasileira junto ao bloco. O encontro deste ano do grupo dos emergentes será o primeiro após a expansão aprovada na Cúpula realizada na África do Sul em 2023, quando foram aprovadas as entradas de Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã no bloco – convidadas, a Argentina refutou o ingresso após a eleição de Javier Milei, enquanto a Arábia Saudita não formalizou adesão ainda.

A expansão se deu contrariando interesses do Brasil e da Índia, que enxergam o aumento do número de membros como uma diluição de poder dentro do Brics. Nesse caso, contudo, prevaleceram as ambições de China e Rússia de crescer o bloco e aumentar influência para além dele.

Em Kazan, além das discussões do Brics como principal catalisador de uma economia global menos dependente do uso do dólar americano, novas adesões estarão em pauta nos bastidores do encontro. Um dos principais objetivos da delegação brasileira será evitar o ingresso da Venezuela de Nicolás Maduro, com que Lula tem mantido relações esfriadas desde o contestado processo eleitoral no país vizinho.

Outros pontos do Brics

A Cúpula do Brics em Kazan servirá a Putin para mostrar uma Rússia que não está diplomaticamente isolada após quase três anos de guerra. E não apenas com países considerados inimigos ou rivais dos EUA, como Irã e China. A Turquia, membro da Otan, entrou com pedido de adesão ao Brics em setembro e seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, estará no encontro.

Outro fator a ser observado no encontro é a presença do Irã e como potências como China e Rússia vão lidar com ele no momento de maior tensão em anos no Oriente Médio.

A ausência do Putin no G20

Desde que passou a ter um mandado de prisão aberto pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), a possível vinda de Putin ao Brasil para o encontro do G20 gerou muita discussão e alguma apreensão além da conta. A ausência do presidente russo na Cúpula do Rio em novembro confirma algo que não era difícil de prever.

Putin não teria porquê forçar a barra a ponto de viajar a um país signatário do Estatuto de Roma e causar um constrangimento não para ele, mas para o Brasil, com quem a Rússia não tem o menor interesse em se indispor. E ele já havia feito algo semelhante ao não ir à Cúpula do Brics ano passado em Johanesburgo.

No fim, ao não vir para o G20, Putin faz um favor ao Brasil por poupar-lhe de um embaraço diplomático maior. Putin até viajou recentemente à Mongólia, que também reconhece a jurisdição do TPI, e não foi preso. Mas ele só foi porque tinha a certeza de que não o seria. Algo que não haveria garantias em relação ao Brasil.

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