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Trump volta maior e mais forte
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Trump volta maior e mais forte

Republicano terá maioria nas duas casas legislativas. Com muito mais controle do próprio partido na comparação com o primeiro mandato, Trump terá mais espaço para avançar com sua agenda
Tipo Opinião
TRUMP terá consigo maioria nas duas casas legislativas (Foto: CHIP SOMODEVILLA / Getty Images via AFP)
Foto: CHIP SOMODEVILLA / Getty Images via AFP TRUMP terá consigo maioria nas duas casas legislativas

Logo no primeiro discurso após a confirmação da vitória nas eleições americanas, Donald Trump foi categórico: "A América nos deu um mandato poderoso e sem precedentes". Há um certo exagero retórico dele ao falar em ineditismo. O mais comum é que o presidente eleito tenha consigo maioria nas duas casas legislativas na primeira metade do governo, com o cenário muitas vezes sendo invertido nas eleições de meio de mandato. Assim foi com 16 dos últimos 21 presidentes americanos, incluindo o próprio Trump. 

Quanto à força que Trump terá, não há tanto exagero. Os republicanos neste ano tomaram dos democratas a maioria no Senado (53 x 47) e mantiveram a maioria na Câmara (os números finais dependem dos resultados ainda em apuração). Esses resultados e o contexto de que Trump controla muito mais o Partido Republicano hoje do que em 2017 dão a percepção de que ele terá poucas dificuldades em avançar com sua agenda. 

Questões como a imposição de tarifas de importação sequer precisam de aprovação do Congresso. Mas outras promessas de Trump como a extensão do corte de impostos devem avançar no Legislativo.

Impacto para o Brasil será menor do que parece

As primeiras perguntas que naturalmente surgiram por aqui após a confirmação da vitória de Trump trataram dos potenciais efeitos que a volta dele à Casa Branca causariam ao Brasil. De início, as notícias pareciam ruins para o governo Lula que, de maneira equivocada, declarou torcida por Kamala Harris antes do pleito.

Contudo, embora Lula e Trump estejam distantes do ponto de vista ideológico, o impacto da vitória do republicano tende a ser menor do que parece por aqui. Primeiro porque o Brasil e a América Latina como um todo continuarão em degrau inferior de prioridades no futuro governo Trump. Assim como foi durante a primeira passagem dele pela Casa Branca e como é atualmente no período Joe Biden. Seja para republicanos, seja para democratas, os assuntos da região ganham protagonismo somente quando relacionados à imigração.

A mensagem que Lula publicou nas redes sociais rapidamente felicitando Trump pela vitória foi uma sinalização de que as relações entre os dois países devem ser pautadas pelo pragmatismo costumeiro. Independente de quem sejam os líderes no poder, há uma burocracia diplomática profissional em ambos os países capaz de assegurar a continuidade de uma boa relação.

Existe um erro no pensamento de que um alinhamento entre os presidentes necessariamente significa uma boa relação. Ou o contrário.

Outras questões como as tarifas prometidas por Trump a produtos importados devem ter um peso bem maior para o Brasil do que a relação do presidente eleito com Lula. Ou mesmo a postura do republicano em relação ao meio ambiente em um cenário no qual o Brasil busca se projetar como principal liderança e vai sediar a COP no próximo ano.

Um erro pior

Um erro maior ainda é cair na narrativa bolsonarista de que a vitória de Trump abre caminho para um retorno de Jair Bolsonaro em 2026 no Brasil. Uma semana após o resultado da eleição americana, não consegui encontrar qualquer pessoa lúcida que explique o sentido dessa associação.

Obviamente que um triunfo maiúsculo daquele que inegavelmente é o principal símbolo da extrema-direita global dá combustível para que outros nomes mundo afora tentem capitalizar politicamente ou manter apoiadores mobilizados. Mas a partir disso pensar em uma onda conservadora inevitável é outra história.

É menosprezar os fatores internos da política americana que levaram Trump à vitória – a economia, como principal deles – e desconsiderar completamente a própria dinâmica da política brasileira. É cair na já manjada tática bolsonarista de tentar repetir tanto uma mentira a ponto de as pessoas passarem a tê-la como verdade.

A vitória de Trump é importante para outros líderes mundiais que podem em alguma medida se beneficiar dentro dos respectivos cenários. Vladimir Putin, no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia; Benjamin Netanyahu à frente de sua cruzada contra o Irã e seus grupos aliados; e Viktor Orbán, nome com cada vez mais força na crítica à União Europeia.

Quanto a Bolsonaro, ele é apenas um inelegível que fracassou na tentativa de arquitetar um golpe. Não é a vitória de Trump que vai reverter isso.

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