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O mundo que o Brasil sonha está longe
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

O mundo que o Brasil sonha está longe

Tal qual o Rio de Janeiro, o mundo que Lula sonhou a partir deste G-20 é bonito e contraditório diante da realidade de hoje na política internacional
Tipo Opinião
BRASIL sedia G-20 em contexto de consensos frágeis (Foto: Mauro PIMENTEL / AFP)
Foto: Mauro PIMENTEL / AFP BRASIL sedia G-20 em contexto de consensos frágeis

O Brasil montou a festa para dela colher frutos e protagonismo. Mas poucos são os anfitriões que conseguem controlar tudo que se passa em um convescote, principalmente com convidados tão ariscos.

Ao sediar a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, o objetivo do governo brasileiro é o de priorizar pautas que caminhem em direção a consensos mais estabelecidos, como forma de reposicionar o País como o agente de mediação que sempre o notabilizou diplomaticamente. E, sobretudo, tentar fugir de uma agenda da contemporaneidade marcada por divergências quase irreconciliáveis que tem marcado o debate internacional.

O sonho de Lula é de que o G-20 no Rio seja uma massagem cardíaca no multilateralismo, para que ele volte a pujança de duas ou três décadas atrás. Um mundo mais globalizado e interdependente é essencial para que o Brasil volte a alcançar e sustentar um desenvolvimento que já teve em um passado mezzo distante.

A criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza parecia o meio ideal para os objetivos brasileiros. Ainda mais atrelando a figura de Lula à iniciativa que recebeu a adesão de 82 países. Unindo isso a uma tentativa de construção de diálogo convergente na pauta ambiental criavam o cenário quase perfeito para uma declaração final de cúpula mais ambiciosa e promissora.

De fato, a declaração final mostrou êxito do Brasil em aplicar em bons termos esses temas. Embora não haja garantias de que os membros do G20 irão cumprir o acordado no texto assinado em consenso, ele mostra que o País preserva sua capacidade de articulação na comunidade internacional, mesmo com tantos desafios para o diálogo.

O mundo real é indissociável

No entanto, quando a realidade bate à porta é difícil ignorá-la. Num mundo ideal – ou menos que isso, numa era em que a globalização era um rio de promessas – não seria loucura pensar os objetivos do Brasil como factíveis.

As pautas propostas pelo Brasil no G-20 e as que ele quer deixar em segundo plano são indissociáveis. Como falar de fome no mundo quando está em curso no Oriente Médio um conflito no qual a escassez de alimentos é usada como arma de guerra?

É possível tratar de maneira propositiva e esperançosa sobre sustentabilidade duas semanas após a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, que caminham para ser uma potência menos preocupada com o multilateralismo e mais dedicada a queimar e jogar carbono na atmosfera? Ou mesmo falar sobre transição energética em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia?

Os líderes globais e os diplomatas estão nessas posições justamente para encontrar essas difíceis respostas, mas os desafios, que sempre foram enormes, hoje parecem muito maiores. Tal qual o Rio de Janeiro, o mundo que Lula sonhou a partir deste G-20 é bonito e contraditório diante da realidade de hoje na política internacional.

Mil dias de guerra

Ainda sobre guerra entre Rússia e Ucrânia. Não parece, mas ela completa 1.000 dias amanhã. Um conflito que mudou a forma como o mundo se relaciona hoje e que, apesar dos esforços do Brasil, também está no centro da pauta do G-20.

O inverno no leste europeu tem um horizonte frio após novos ataques russos a instalações energéticas ucranianas. E incerto quanto aos efeitos que a autorização do governo Joe Biden para que a Ucrânia possa usar mísseis de longo alcance americanos contra território da Rússia.

Milei vence só na cabeça dele

Javier Milei fez e aconteceu na estreia dele em encontros do G-20. Todo pimpão com a vitória de Trump, o presidente argentino escancarou a verve antiglobalização.

Depois de demitir a chanceler Diana Mondino (que ainda conferia um mínimo de juízo ao governo) e encontrar Trump na Flórida, Milei tentou causar no G-20 em voo solo para sabotar a cúpula. Sem o peso de EUA, China ou Rússia, recuou e aceitou a declaração final. Pelo menos se poupou de virar uma nota solitária de rodapé.

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