Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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A vitória de Yamandu Orsi representa um retorno da Frente Ampla (esquerda) ao poder no Uruguai após cinco anos do presidente de centro-direita Luis Lacalle Pou. Simboliza também a repetição de um cenário de alternância de poder já visto em quase todos os países da América do Sul nos últimos anos. As eleições da região têm sido marcadas por vitórias da esquerda quando a direita está no poder e vice-versa. Assim foi recentemente em quase todos os países, com exceções do Paraguai (onde o Partido Colorado segue hegemônico) e da Venezuela, onde não é possível falar em eleições justas.
Yamandu Orsi também será o primeiro presidente uruguaio após a redemocratização que não construiu carreira política em Montevidéu. Ex-governador do Departamento de Canelones (o segundo maior do país), ele herda o estilo mais simples do ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015), um dos principais símbolos da esquerda latino-americana que participou ativamente da campanha mesmo com a saúde debilitada e considera Orsi uma nova liderança para o campo progressista na região.
Independentemente do resultado das urnas e seus efeitos, o mais notável na eleição uruguaia foi o processo em si, marcado por um debate político maduro. Enquanto a tendência mundial é um ambiente de disputa marcado pelo extremismo, tanto Yamandu Orsi quanto o candidato derrotado Álvaro Delgado (do Partido Nacional, de centro-direita) não impuseram discursos radicais para interditar o debate.
Durante a campanha, um candidato via o outro como adversário político legítimo. Em nenhum momento a democracia foi ameaçada por contestações de resultados ou estímulo à violência contra o outro lado. No Uruguai, não é raro ver políticos que se opõem juntos passando uma mensagem amistosa, ao invés de estimular o confronto.
As diferenças, claro, existem e são colocadas à mesa. O Uruguai passa por problemas sérios como o aumento da violência. Mas instituições democráticas fortalecidas aliadas com uma estabilidade política de fazer inveja, os baixos índices de desigualdades econômicas e uma sociedade mais empática com o outro proporcionam um debate mais civilizado e menos interditado, não deixando espaço para o surgimento de lideranças extremistas que tentem chegar ao poder cooptando as pessoas com um discurso de “bem contra o mal”.
Um bom exemplo de como avançado está o debate político no Uruguai foi a realização de dois plebiscitos simultaneamente ao primeiro turno no fim de novembro.
Em um deles, a população foi consultada sobre a mudança do artigo 11 da Constituição, que proíbe a realização de batidas policiais noturnas nas residências das pessoas. Ou seja, um endurecimento de ações na segurança pública ligada e defendida por partidos de direita. O “sim” recebeu apenas 39,36% dos votos e a proposta não foi aprovada pelo povo.
Um segundo plebiscito propunha aos eleitores decidirem sobre uma reforma da previdência uruguaia. Os pontos principais da consulta eram a proibição de empresas privadas administrarem pensões e a redução de 65 para 60 anos a idade mínima de aposentadoria.
Portanto, uma proposta mais ligada à esquerda e defendida pelas centrais sindicais, embora não tenha recebido adesão unânime na Frente Ampla, com objeções feitas por Orsi e o ex-presidente Pepe Mujica. Nesse plebiscito, a população também rejeitou a reforma, com o “sim” obtendo somente 38,77% dos votos.
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