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Erramos declarados
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

Erramos declarados

A coluna aborda um erro cometido na editoria de Cidades e outro no perfil do O POVO no Instagram
Tipo Opinião
Imagem da capa do O POVO do dia 2 de maio de 2024  (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Imagem da capa do O POVO do dia 2 de maio de 2024

A manchete é a vitrine do jornal. A violência e a insegurança são dois dos maiores temores da sociedade, seja lá qual for o país ou a cidade. Eis que a manchete da última quinta-feira, 2, reuniu os dois pontos ao trazer o seguinte escrito: "1º trimestre de 2024. Ceará tem média de quatro sequestros relâmpagos por dia". Já o abre, texto abaixo do título, complementava: "Foram 114 ocorrências registradas entre janeiro e março deste ano. Vítimas são rendidas dentro do próprio veículo e obrigadas a fornecer senhas e fazer transferências bancárias".

Os dados são aterrorizantes. Só quem passa por situação semelhante, conhece a angústia e a tensão de estar minutos ou horas sob a ameaça constante de criminosos. A matéria de Cidades mostra, ainda, que "com as mudanças relacionadas a transações bancárias e a facilidade na criação de contas digitais, os caixas eletrônicos foram esquecidos", destacando a utilização do Pix como forma de obter dinheiro das vítimas.

O fato é que a manchete repercutiu, como era de se esperar, e um leitor questionou: "Como vocês chegaram a este número que está na manchete de hoje (quinta)? Vejamos: 114 ocorrências em três meses, ou seja, em 90 dias, não resulta em 4 ocorrências, em média, por dia."

Após o compartilhamento interno, o editor-chefe de Cidades, André Bloc, esclareceu: "Faltou uma informação no abre. 114 (por mês) entre janeiro e março. Foram 341 casos. Em 90 dias, dá 3,8 casos por dia."

O próprio material da quinta-feira trouxe dois dados diferentes no mesmo texto: o lide informava que "o Ceará registrou uma média de quatro casos de sequestro relâmpago por dia no primeiro trimestre deste ano. Por mês, são 114 ocorrências registradas pelas forças de segurança do Estado, somando 341." Mais à frente, outro número: "Os 371 casos de sequestro relâmpago entre janeiro e março deste ano perfazem quatro crimes de extorsão mediante restrição de liberdade por dia no Ceará".

Na edição do dia seguinte, dia 3, uma das chamadas de capa trouxe no canto da página um "Erramos", informando: "Ceará teve quatro casos de extorsão por dia". Internamente, na página 14, a admissão: "O POVO publicou erroneamente este dado como 'extorsão mediante restrição de liberdade' (sequestro relâmpago), uma tipificação do artigo 158 do Código Penal Brasileiro, e motivo da demanda à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS). A informação publicada na primeira página e na página 13 estava imprecisa, pois os dados enviados eram para todos os casos de extorsão". O título, desta vez, foi "Ceará registra 3,8 casos de extorsão por dia em 2024".

Correção feita, mas o leitor permanece sem ter o dado acerca dos sequestros relâmpagos. O segundo texto diz que "segundo a SSPDS, seria necessária uma análise individual dos casos de extorsão para definir quantos seriam de extorsão mediante restrição de liberdade, comumente conhecidos como sequestros relâmpago". Sim, mas a Secretaria fará o levantamento? Sim? Não? Em quanto tempo? A pasta enviou os dados relacionados à extorsão, porém os de sequestro relâmpago, que era o foco da matéria, nada. É um assunto pertinente. Que a verificação seja feita e disponibilizada. Quem comprou o jornal pela manchete, ficou no prejuízo.

Foto ilustrativa

Ainda tendo a insegurança como pauta, na manhã de sexta-feira, 3, O POVO noticiou, no portal e nas mídias sociais, outra barbaridade envolvendo uma criança de dois anos de idade que havia sido atingida na cabeça, durante um tiroteio em Fortaleza.

A foto escolhida para o Instagram trazia uma viatura da Polícia Militar e no crédito: "foto de apoio ilustrativa (sic) / Reprodução SSPDS Ceará".

Um leitor entrou em contato com a ombudsman e indicou: "Sou um feroz crítico da truculência policial, mas é necessário o mínimo de responsabilidade em publicações desses casos, principalmente. Se alguém achar que, com tantos casos onde a polícia comete erros absurdos que causam a morte de inocentes, colocar a foto de um carro de polícia em uma notícia sobre a morte de uma criança com uma bala perdida, não é deixar implícito que foi a arma de algum policial, é voltar pra sala de aula e estudar semiótica e subtexto".

Pouco tempo depois, a publicação foi apagada e substituída com outra imagem, desta vez com uma foto que seria do Pirambu, bairro onde aconteceu o crime. O crédito indicava "WhatsApp O POVO". A primeira publicação ficou no ar por exatos 57 minutos.

O uso de imagens ilustrativas é comum. O assunto foi pauta de uma coluna anterior, quando chamou a atenção para uma publicação acerca de um homem que havia sido morto na avenida Beira Mar. A foto, no entanto, não deixava claro se o corredor que aparecia na imagem era ou não a vítima. Nesse caso, o "foto meramente ilustrativa" era necessário e foi inserido posteriormente.

Sobre o assunto, o editor-adjunto de Mídias Sociais, Alan Magno, conta que, no Grupo de Comunicação O POVO, o uso de imagens de apoio ilustrativo é considerado um último recurso no fluxo de distribuição de conteúdo jornalístico nas redes sociais. A abordagem é reservada para casos em que se torna impossível o uso de um registro factual devido a conteúdo sensível, necessidade de preservar identidades ou falta de registros disponíveis.

"O leitor está correto em suas observações. O erro foi grave, e reconhecendo que imagens também são elementos narrativos, erramos em nossa primeira publicação tendo em vista que ela não estava suficientemente clara com relação ao papel da Polícia Militar no ocorrido, nem com relação ao contexto em que a criança foi baleada, abrindo margem para interpretações equivocadas", destaca Alan.

No que se refere à legenda, ele complementa: "O post inicial não teve intenção de denegrir ou desinformar nosso público sobre o papel da Polícia Militar, sendo apenas resultado de um equívoco. Porém, também é importante destacar que tais informações estavam claramente descritas na legenda da postagem, detalhando as circunstâncias do incidente em que a criança foi baleada, sem atribuir responsabilidades a qualquer efetivo das forças de segurança".

Segundo o editor, o erro motivou uma revalidação interna do treinamento de todo o time, prevista para amanhã, segunda-feira, 6, a fim de reforçar os princípios éticos e morais que norteiam a distribuição de conteúdo jornalístico nas Mídias Sociais do O POVO para garantir que erros como este não se repitam.

 

Abaixo, a íntegra da resposta do editor Alan Magno:

No Grupo de Comunicação O POVO, o uso de imagens de apoio ilustrativo é considerado um último recurso no fluxo de distribuição de conteúdo jornalístico nas redes sociais. Essa abordagem é reservada para casos em que se torna impossível o uso de um registro factual devido a conteúdo sensível, necessidade de preservar identidades ou falta de registros disponíveis.


Quando é necessário utilizar uma imagem ilustrativa, a orientação do nosso time de Mídias Sociais é a seguinte:


1.Buscar em bancos de imagens confiáveis, evitando o uso de qualquer imagem gerada por Inteligência Artificial.
2.Garantir que o contexto e os elementos da foto escolhida estejam adequados ao assunto da pauta.
3.Avaliar a perspectiva e enquadramento de cada foto, considerando a possibilidade de elementos que possam descaracterizá-la ou inviabilizar seu uso em outras localidades geográficas que não as do momento do registro.
4.Evitar o uso de fotos que identifiquem ou destaquem o rosto dos modelos de banco de imagem, optando por borrar ou ocultar suas identidades.


É importante ressaltar que ainda que o uso de imagens ilustrativas é nosso último recurso, em notícias relacionadas à Segurança Pública, onde a sensibilidade de conteúdo é maior, se torna mais propenso o uso dessas imagens. Assim, dentro deste contexto, quando necessário, usamos fotos divulgadas pela própria Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) ou fotos feitas por fotógrafos da Casa com o mesmo propósito.

No entanto, é importante reconhecer que, em casos como a publicação comentada pelo leitor em 3 de maio, houve um grave erro humano. A pessoa responsável pela distribuição de conteúdo no Instagram utilizou, por engano, a foto de uma viatura da Polícia Militar em vez da foto da ocorrência. Assim que o erro foi identificado, o conteúdo foi rapidamente removido das redes sociais, permanecendo no ar por 57 minutos.

O leitor está correto em suas observações. O erro foi grave, e reconhecendo que imagens também são elementos narrativos, erramos em nossa primeira publicação tendo em vista que ela não estava suficientemente clara com relação ao papel da Polícia Militar no ocorrido, nem com relação ao contexto em que a criança foi baleada, abrindo margem para interpretações equivocadas.

Reitero que o post inicial não teve intenção de denegrir ou desinformar nosso público sobre o papel da Polícia Militar, sendo apenas resultado de um equívoco. Porém, também é importante destacar que tais informações estavam claramente descritas na legenda da postagem, detalhando as circunstâncias do incidente em que a criança foi baleada, sem atribuir responsabilidades a qualquer efetivo das forças de segurança. Não sendo passível de esquecimento que é dever dessas instituições garantir que situações como essa não se repitam. Elas assumem um compromisso público com a sociedade e estão, direta ou indiretamente associadas a todas as ocorrências de segurança pública.

Contudo, a forma como construímos tal narrativa em nosso post estava equivocada. A pessoa responsável pelo post foi ouvida, orientada e está comprometida em evitar que erros semelhantes ocorram novamente. O novo post foi feito após essa conversa, abordando o assunto de forma diferente e utilizando uma nova foto, enfatizando que o tiroteio em que a criança foi baleada teve origem em um conflito entre facções criminosas e que o papel da Polícia Militar nesta ocorrência está restrito ao trabalho de investigação do caso e rastreio dos suspeitos das mortes registradas.

Além disso, o erro motivou uma revalidação interna do treinamento de todo o time, prevista para segunda-feira, 6, para reforçar os princípios éticos e morais que norteiam a distribuição de conteúdo jornalístico nas Mídias Sociais do O POVO para garantir que erros como este não se repitam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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