
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Não se pode mais ignorar a representatividade social e a capacidade de articulação do campo que se passou a chamar, no Brasil e nas democracias ocidentais, de "direita". A palavra é imprecisa, porque excessivamente redutora. Assim como não há uma esquerda homogênea capaz de sintetizar o campo progressista, não se pode falar de direita como um campo unificado. Sob essa palavra se acomodam múltiplos discursos, visões de mundo e expressões contemporâneas do conservadorismo. Dos mais radicalizados ao centro democrático, passamos a chamar de direita todas as forças políticas que se opõem ao grupo que orbita em torno da força do petismo.
Apesar da fragmentação de propostas, uma polarização já cristalizada garante a competitividade de uma consistente força antiprogressista nos diversos cenários eleitorais desenhados. As eleições majoritárias tornaram-se, por isso, um teste pendular entre conservadorismo e progressismo, com pouco espaço para "terceiras vias" e com alta probabilidade de eleições decididas no segundo turno. Meu artigo não se dedica a apreciar as razões do fortalecimento de políticos mais conservadores, mas um curioso efeito que advém da sua ascensão. O ônus do sucesso, eu diria.
Eu me refiro à competição interna que o campo conservador tem precisado administrar em várias capitais nas próximas eleições municipais. Não são disputas triviais e se mostram fratricidas o suficiente para ameaçar a vitória de candidaturas potencialmente competitivas. São Paulo e Fortaleza são os melhores exemplos.
Em Fortaleza, a significativa ascensão de André Fernandes (PL) pressiona a candidatura de Capitão Wagner (União Brasil), agora na defensiva para se viabilizar. O já conhecido candidato da direita cearense precisou adaptar sua persona nas últimas eleições estaduais para acenar a eleitores menos extremistas. Essa moderação pragmática não caiu bem no eleitorado mais radicalizado ainda deslumbrado com o bolsonarismo. Fernandes ungiu-se como candidato mais simpático ao campo, e conta com a benção de ex-presidente. Um cenário com as duas candidaturas, a de Wagner e a de André, parece o melhor dos mundos para seus antagonistas no campo mais "progressista", Evandro e Sarto.
Em São Paulo, a fragmentação também tem cobrado seu preço. O coach Pablo Marçal surpreendeu um Ricardo Nunes já refém do bolsonarismo. Pontuando bem nas pesquisas, Marçal levou Nunes a aceitar o vice radical exigido por Jair Bolsonaro. Os aliados têm amargado uma angústia: a opção pelo radicalismo pode ser a pá de cal na viabilidade da candidatura do atual prefeito.
As múltiplas candidaturas indicam força da direita, mas podem levar a resultados eleitorais insatisfatórios, afinal, a capacidade de ganhar eleições majoritárias depende de pragmatismo, uma habilidade democrática que os políticos radicais têm dificuldade de realizar até por necessidade de sustentação do discurso antissistema. Só conjunturas muito especiais explicam fenômenos como a vitória de um candidato sem arco importante de alianças como foi Jair Bolsonaro. Fenômenos como ele não se replicam em série. Talvez essa seja a lição que as eleições de 2024 reservam à direita brasileira.
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