Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
O fiasco no desempenho do atual presidente americano Joe Biden no debate eleitoral do dia 27/6 pareceu confirmar a impressão generalizada de que vivemos um ambiente muito favorável ao fortalecimento da direita mais extremada por todo o Ocidente. As chances de vitória de Donald Trump tornaram-se mais evidentes e convergem com os resultados, em primeiro turno, das eleições legislativas na França. As mais longevas democracias constitucionais estão ameaçadas de uma tomada de assalto empreendidas por aventureiros radicais.
No último domingo, os franceses deram uma vitória contundente para o partido de extrema direita capitaneado por Marine Le Pen. Esse resultado, se confirmado amanhã, no segundo turno, nos apresenta um cenário chocante para a história da lendária democracia francesa: a possibilidade de que um tiktoker de vinte e poucos anos, sem formação superior, possa ocupar o posto de primeiro-ministro do país. Uma conjuntura muito particular e complexa favorece um momento contrarrevolucionário em que as direitas se aproveitam do medo e da angústia da população em relação ao futuro.
Será que nosso horizonte é, de fato, tão ameaçador e desencantado? Estaremos mesmo vivendo um momento de desvigor absoluto das esquerdas? Quero acreditar que não: e essa percepção não é uma atitude de fé, é uma convicção alimentada por sinais ambivalentes que vêm justamente das democracias sob ataque. França, Inglaterra e os próprios Estados Unidos nos dão conta de uma capacidade de resistência e articulação do progressismo e da direita mais tradicional que são animadores.
A mesma França que deu ao partido Reunião Nacional (RN) de Le Pen os 33,1% dos votos em primeiro turno, indicando uma maioria absoluta de assentos no parlamento, reagiu fortemente durante a semana. Uma aliança pragmática e muito responsável dos partidos tradicionais com as esquerdas francesas parece estar surtindo efeito e, a peso de hoje, há chances menores do partido de extrema direita alcançar a maioria absoluta que lhes permitiria participar do governo da república francesa.
A frente republicana, formada com apoio do atual presidente Emmanuel Macron, conseguiu reagir: mais de 200 candidaturas da coalização de oposição à direita radical foram retiradas para evitar a fragmentação dos votos, concentrando os votos dos eleitores em candidatos com maior viabilidade. Na Inglaterra, depois de 14 anos longe do poder, o Partido Trabalhista voltará a governar. A vitória eleitoral dos trabalhistas sobre o Partido Conservador pode ser definida como arrasadora, evidenciando o descontentamento social com o isolamento e a política anti-imigração estabelecida com o Brexit - uma agenda apoiada e empreendida pela direita ultraconservadora.
Nos EUA, vemos um movimento forte para viabilizar uma candidatura mais competitiva de que a de Joe Biden. A pressão da mídia e da opinião pública talvez leve o Partido Democrata a tomar uma decisão sensata. A própria existência de tal reação é sinal de algum senso de responsabilidade diante do risco Trump. O futuro, é certo, o temos. Não será fácil, mas talvez não seja tão tenebroso quanto alguns políticos gostariam de torná-lo.
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