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A Olímpiada e o elogio da festa
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor

A Olímpiada e o elogio da festa

Vemos graciosidade nos jogos desde a sua abertura: a cerimônia que marca o início das competições é uma oportunidade de confraternizar com alegria, expectativa e, por que não admitir, uma boa dose de extravagância, como se se tratasse de um salvo conduto para uma de desfile carnavalesco fora de calendário
Tipo Opinião

Estamos chegando na reta final dos jogos olímpicos, uma das mais belas festas que temos a oportunidade de testemunhar, mesmo à distância. Não só um convite para desfrutarmos da exuberância das performances de alto rendimento, os jogos são uma oportunidade de pensarmos sobre as virtudes e os valores que podem tornar o mundo um lugar bom de estar.

Vemos graciosidade nos jogos desde a sua abertura: a cerimônia que marca o início das competições é uma oportunidade de confraternizar com alegria, expectativa e, por que não admitir, uma boa dose de extravagância, como se se tratasse de um salvo conduto para uma de desfile carnavalesco fora de calendário. É uma permissão universal para o excesso orgulhoso, para a suspensão das obrigações de um cotidiano sem cor. A abertura evoca o júbilo da exibição e do encontro, o contentamento pela preservação de uma tradição de paz milenar. Um reunir-se para o gozo.

Paris nos proporcionou isso e se permitiu ousadias extraordinárias. Tornou uma das cidades mais lindas do mundo o verdadeiro palco da festa - sua arquitetura histórica, seus telhados e marcos urbanos (como a magnífica biblioteca nacional), seus parques e ruas que se incorporaram como personagens em uma grande apoteose artística. Vimos, por horas, um pouco de tudo, múltiplas linguagens expressivas, o kitsch, o erudito, a cor, a sombra, um cavalo prateado cavalgando sobre o Sena e, no ponto culminante, uma tocha flutuante, evocando a iconografia da história francesa e parisiense.

Como não abrir um sorriso com a cena das delegações em seu desfile aquático, pulando alegremente sob uma chuva inclemente, tão parisiense quanto a própria disposição de chocar e testar os limites? Como não se deixar tocar pela cena da tocha passando de mão e mão, sempre notando o cuidado que a organização teve, ao selecionar os atletas, com a igualdade racial e de gênero.

Paris nos lembrou que o amor ao esporte é também uma forma de render culto à estética, ao belo em seu sentido mais puro, e o fez ao exibir os magníficos bailarinos da Ópera de Paris dançando nos telhados. O esporte nos apaixona não apenas porque mobiliza a adrenalina do jogo, mas porque a performance em sua máxima potência convida à contemplação de uma plástica única - a do movimento unido à força, em excepcional harmonia e superação dos limites.

A Olimpíada é também uma oportunidade de pensarmos sobre os valores que nos tornam humanos. Um evento que nos convida à fraternidade universal, afinal, nenhuma outra competição reúne representantes de tantos lugares diferentes do globo. Uma chance de encontro, de aprendizado, de reconhecimento da diferença como patrimônio de diversidade. Também nos convida ao respeito, à amizade, à competição saudável, que conclui com um abraço, um cumprimento ao adversário, o zelo por sua integridade. Mais do que a vitória, importa a própria preservação do espaço de competição como espaço aberto à saúde e ao bem-estar do outro.

Que possamos sempre mudar um pouco nossas rotinas cansativas para contemplar eventos felizes como são as olímpiadas. Afinal é a festa, a contemplação e a beleza que nos elevam para além de toda pequenez e melancolia.

 

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