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Sim, ela pode: de vice à protagonista
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor

Sim, ela pode: de vice à protagonista

O Partido Democrata deu uma bela demonstração de coesão e não titubeou, evitando polêmicas e contradições desnecessárias: ungiu Kamala Harris sem qualquer sinal dissidência interna, quando todos os potenciais correntes imediatamente retiraram o nome do pleito. E a vice-presidente parecia estar apenas esperando o seu momento

A delícia de escrever sobre a política é descobrir como ela é a arte do imprevisto, do futuro sempre aberto à surpresa e ao acaso. O atentado que vitimou Donald Trump no dia 13 de julho acabou por precipitar uma mudança que se sabia estrategicamente necessária, mas difícil, indispensável à mudança na correlação de forças nas eleições americanas deste ano: a renúncia de Joe Biden à candidatura pela reeleição. A mudança se fazia urgente, mas se mostrava incomodamente dependente da iniciativa do próprio presidente.

Com o atentado, a pressão tornou-se insustentável e, por fim, vencida a resistência de Biden, viabilizou-se a promoção da vice-presidente Kamala Harris ao posto que lhe era devido: o de cabeça de chapa. Harris chegou a ser vista como uma vice-presidente pouco expressiva, um tanto ineficiente em assumir uma presença firme na cena pública americana. O que era uma respeitosa atitude de respeito à liderança de Biden acabou por ser usada contra sua vice: não foram poucos os críticos que sustentaram a necessidade de escolher outra pessoa para o posto de candidato. Embora Harris fosse a escolha natural, por tradição, muitos alegaram falta de competitividade, numa estratégia parecida com a que foi vista no Ceará em 2022, quando o PDT jogou às favas a candidatura à reeleição de Isolda Cela ao governo do estado.

O Partido Democrata, contudo, deu uma bela demonstração de coesão e não titubeou, evitando polêmicas e contradições desnecessárias: ungiu Kamala Harris sem qualquer sinal dissidência interna, quando todos os potenciais correntes imediatamente retiraram o nome do pleito. A vice-presidente parecia estar apenas esperando o seu momento: começou a sua campanha com uma vitalidade ímpar. Em poucas horas, foi capaz de uma arrecadação recorde de contribuições dos seus eleitores, mostrando não só força junto à base, mas capacidade de reacender os ânimos já aborrecidos com o antagonismo entre Biden e Trump.

A convenção democrata, que se deu ao longo da semana, foi o triunfo de uma escolha certeira. Enérgica, luminosa e muito alegre, Harris confirmou sua capacidade de incendiar a eleição, deixando Trump atordoado pelo show de profissionalismo de um marketing muito bem pensado, muito bem executado. Ela é fresca, pop, ri alto, fala bem e à queima roupa, chama o republicano para o ringue do debate, é forte, sem constrangimento por ser forte.

Reforçando esse trunfo, o ex-presidente Barack Obama renovou o slogan do partido democrata para afirmar, em show de oratória: sim, ela pode. E é exatamente dela que os Estados Unidos precisam. Uma impecável Michelle Obama de cabelos trançados e braços desnudos arrematou: Trump estimula o partido a ter medo de pessoas como nós, vamos recuperar o país e o protagonismo.

Por isso, leitor, meu entusiasmo: ser candidata a vice é sempre um destino que restringe e limita o talento, que castra o brilho e a potência de tantas mulheres. Nada mais novo e revolucionário que mostrar ao eleitorado que a mudança vem pelo braço de uma mulher protagonista e muito competente, sem medo de ser quem é e que tem no riso franco sua marca registrada: sim, ela pode, com aplauso e sem sombra de hesitação.

 

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