
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Na reta final do primeiro turno das eleições de 2024, podemos tirar algumas conclusões sobre as transformações na conjuntura política do Brasil. Eu ressaltaria duas: o desgaste da polarização entre petismo e bolsonarismo e a fragmentação da direita em agrupamentos sem liderança única e inquestionável.
Costuma-se dizer, das eleições municipais, que o pleito local goza de certa independência das dinâmicas nacionais. Na eleição para prefeito e vereador, o eleitor está mais atento às necessidades de zeladoria da cidade, de seu cotidiano como usuário de serviços básicos como saúde, educação e transporte público. Apostou-se que o aprofundamento da polarização entre petismo e bolsonarismo seria um teste a essa tendência, tornando os pleitos municipais deste ano uma disputa entre as influências dos dois líderes: Lula e Jair Bolsonaro. As eleições de 2024 seriam, assim, mais "nacionalizadas". Era uma aposta, uma hipótese forte.
Se, por um lado, podemos afirmar que a distinção entre direita e esquerda parece definitivamente consolidada na mente dos eleitores, por outro, os cenários de diversas cidades mostram que as grandes lideranças que se enfrentaram em 2022 saem mais enfraquecidas neste pleito, menos determinantes. Em capitais como São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro e Recife, só para citar algumas, observamos cenários em que outras lideranças assumiram um protagonismo maior do processo, deixando em segundo plano a influência tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Tarcísio de Freitas em São Paulo, Eduardo Paes no Rio de Janeiro, a força do grupo Campos no Recife e mesmo a influência de Camilo Santana no Ceará são exemplos de como as figuras nacionais não tiveram a força esperada nesta eleição.
Essa constatação vai ao encontro de outra tendência observada em várias cidades: a pulverização de candidaturas da direita conservadora. Já tive oportunidade de escrever sobre isso, sustentando que essa dispersão, pouco pragmática do ponto de vista eleitoral, é causada pelo próprio sucesso do conservadorismo em se reinventar e se mostrar palatável a uma porção não desprezível do eleitorado brasileiro. Em Fortaleza, vimos Capitão Wagner e André Fernandes disputarem o mesmo campo; assim como, em São Paulo, Pablo Marçal e Ricardo Nunes. Belo Horizonte é outro exemplo. Três cidades em que, na véspera da votação do primeiro turno, temos um empate técnico triplo, tornando o cenário absolutamente indefinido.
Interpreto essas tendências com otimismo, porque mostram que a democracia brasileira parece sobreviver à força gravitacional de Lula e Bolsonaro. É como se ensaiássemos a entrada em um novo tempo político, ainda muito incerto, sem novos atores estabelecidos, numa disputa por protagonismo que pode favorecer uma renovação, na medida em que as hegemonias passam por transições importantes.
E, se há alguma qualidade que uma democracia deve ostentar, é a de favorecer a transformação, a abertura para novas dinâmicas, novas agendas, novas formas de fazer política. Que seja um tempo de menos extremismo e mais pragmatismo: o país, de ressaca de uma polarização desgastante, precisa de alguma tranquilidade para seguir adiante.
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