
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Amanhã Fortaleza vai enfrentar uma das mais acirradas disputas eleitorais das últimas décadas. A quase totalidade das pesquisas de intenção de voto indicam um empate técnico entre os candidatos, de modo que qualquer previsão neste momento conta com uma boa dose de expectativa e fé. Neste artigo, gostaria de propor uma reflexão aos leitores: o que e quem elegemos quando depositamos o nosso voto na urna?
A pergunta faz sentido porque nenhum candidato eleito governa sozinho. Ao chegar ao poder, um prefeito, governador ou presidente leva consigo um grupo - um conjunto de pessoas que ajudarão o eleito a gerir as diversas pastas do Poder Executivo. Essa noção de que toda vitória eleitoral é, necessariamente, a vitória não de uma pessoa, mas de um grupo político, nos remete a outra - a de que todo grupo político se reúne em razão de valores, interesses e objetivos comuns. Podemos chamar essa comunhão de ideologia, na falta de uma palavra menos problemática.
Quem são e o que defendem aqueles que pertencem ao grupo de André Fernandes e do Partido Liberal? Que visão de mundo, que passado e que futuro essas pessoas nos oferecem? Há dois dias, o vereador reeleito Inspetor Alberto, do Partido Liberal, disse, aos gritos: "Leitão, filho da p#t@, tu vai para a churrasqueira. Prepara teu caixão, vagabundo". Ao contrário do que muitos podem pensar, essa não é a expressão de um indivíduo isolado, é uma ameaça que ressoa toda uma preocupante concepção de política como arma, de política como arena de eliminação do opositor, visto como inimigo.
A declaração, grave e alarmante, tem servido para, na última hora, desconstruir a competente campanha de marketing do candidato do PL em Fortaleza, que foi capaz de atenuar junto à opinião pública a imagem radicalizada de um político jovem, que, ao longo de sua vida pública, colecionou manifestações marcadas pela misoginia, pelo desrespeito à vida e à ordem pública. Essa versão comedidamente cívica de André Fernandes parece incompatível com a do mesmo André que, em vídeo de meses atrás, esfaqueia violentamente uma caixa de papelão que simboliza uma mulher. A imagem não ganhou repercussão nacional à toa: que tipo de política de proteção às mulheres pode oferecer um prefeito que simplesmente debocha da violência de gênero, estatisticamente demonstrada? Que, sobre o feminicídio, só a tem a dizer um tão violento "dane-se!"?
Esse passado de manifestações do candidato do PL e o presente de declarações dos integrantes de seu grupo político mais próximo explicam o choque de parte substancial do eleitorado de Roberto Cláudio ao apoio que ele tem repetido de forma incisiva a André Fernandes. Ciro Gomes, por sua vez, parece ter caído no desencanto de admiradores que, país afora, distantes do Ceará, costumavam identificá-lo como um nome reconhecido por seu compromisso com a democracia e o progressismo. "Perdeu-se" pela mágoa, foi o que repetiu uma comentarista importante de telejornal.
O voto importa porque ele é a adesão a um discurso, a um projeto. Que, amanhã, cada leitor possa fazer uma escolha consciente de que elege um grupo, um passado e, principalmente, uma perspectiva de futuro.
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