Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor
Depois da eleição, gostamos de avaliar o saldo do resultado. Quem ganha ou perde, que horizonte se pode projetar para 2026. As eleições são o resultado de uma história contínua que teve início bem antes do primeiro dia da campanha e que não se encerra quando o TSE formaliza os resultados. Não dá para avaliar certos movimentos do presente sem considerar que eles foram decididos levando-se em conta o futuro - Roberto Cláudio que o diga.
A primeira conclusão do nosso saldo é a de que o campo composto pelos partidos mais à esquerda sai enfraquecido, se considerarmos apenas os resultados das urnas. Foram apenas duas capitais de estado conquistadas pelo voto, Fortaleza e Recife, e uma sensação importante de um reavivamento do antipetismo alimentado pelo fato de que o PT é governo em âmbito nacional - e como tem sido difícil, à direita ou à esquerda, ser governo!
A identificação das causas desse quadro não admite respostas simples - não há uma relação de causalidade direta que nos aponte uma causa única para o resultado. Seria o efeito do antipetismo? A resistência de uma parcela importante do eleitorado a pautas identitárias pelo reconhecimento de direitos a certos grupos sociais vulneráveis? Seria uma guinada mais conservadora da população brasileira ou simplesmente o efeito das irrastreáveis emendas parlamentares que fizeram jorrar dinheiro em prefeituras controladas pelos partidos de centro-direita Brasil a fora? Provavelmente um pouco de tudo.
Se a esquerda sai enfraquecida, é certo que também sai enfraquecido o radicalismo conservador. E essa constatação é um alívio - sei que o leitor há de concordar. As candidaturas diretamente relacionadas ao bolsonarismo linha dura saíram derrotadas - a maioria delas para candidatos de centro mais ponderados. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que já tem ensaiado o lançamento de uma candidatura à presidência em 2026, declarou: o país está cansado do jeito de Bolsonaro fazer política.
Difícil discordar. Em Fortaleza, o candidato do PL, André Fernandes, pode creditar seu impressionante desempenho a um cuidado de marketing muito bem sucedido: não mostrar qualquer vinculação com o ex-presidente Jair Bolsonaro e investir na imagem de bom moço apto a oferecer renovação e mudança. Isso nos permite avaliar que, se, de um lado, a esquerda saiu perdedora das urnas Brasil afora, de outro, foi ela a grande responsável por resistir, com resiliência disciplinada e capacidade de articulação, à banalização da política do absurdo. Não se ganha apenas nas urnas, também ganhamos na proteção da saúde da democracia.
A confirmação dessa análise veio há dias, quando o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira tirou da Comissão de Constituição e Justiça o projeto de lei que anistia os envolvidos nos atos de vandalismo do 8 de janeiro. Na prática, o projeto volta ao zero, em derrota importante para o bolsonarismo, que quer ver Jair Bolsonaro elegível novamente. Preocupado em emplacar seu sucessor e necessitado dos votos dos deputados do PT, Lira viu Bolsonaro ser derrotado em muitas capitais no último domingo, liberando-o para investir mais no bastidor e menos no palanque digital.
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