Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Nada como a experiência para nos ajudar a acalmar os nervos em momentos difíceis. Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato e, embora os tempos se anunciem sombrios, a comoção não teve o mesmo ar apocalíptico do que na ocasião da tomada de posse de seu primeiro mandato. De certo modo, podemos dizer que testemunhamos um espetáculo ensaiado em seus mínimos detalhes, previsível em suas polêmicas.
O que esperávamos? Um Trump envaidecido, ciente de que seu capital político cresceu depois de uma retumbante vitória eleitoral que cumulou o êxito do voto popular ao êxito nos colégios eleitorais - não é pouca coisa, considerando que os últimos presidentes republicanos não se elegeriam somente pelo voto direto. O fato de que Trump tenha sido a opção da maioria dos americanos traz legitimidade ao mandato, deixando um midiático presidente à vontade para suas performances.
Também esperávamos medidas tomadas para gerar as reações mais diversas: do delírio de seus lunáticos seguidores à repulsa dos democratas mais progressistas. O que importa é capturar a pauta, seja positiva ou negativamente. Para isso, três frentes são prioritárias pelo que elas representam de impacto na opinião pública: a caça aos imigrantes, eleitos como bodes expiatórios de problemas complexos como a segurança pública; o desmonte à legislação voltada à proteção do meio ambiente; e o desmantelamento das políticas antidesigualdade, notadamente as de gênero.
Houve, portanto, um cálculo político e publicitário nos anúncios dos primeiros dias, mais do que a tomada de medidas concretas. Se sairmos um pouco do plano das questões ambientais e de equidade, veremos também que Trump sabe ladrar, mas é bastante contido em tomar medidas práticas com impacto significativo no sucesso da pasta da economia, a mais estratégica para qualquer presidente. Já anunciou e voltou a anunciar tarifas para encarecer importações de países como China e Canadá, mas, até agora, efetivamente não apresentou política tarifária concreta, mostrando-se mais cauteloso do que o seu discurso inflamado sugere.
Os truques comunicativos não são um privilégio de Donald Trump. Quando Elon Musk fez, às vistas de todos, uma saudação nazista, ele sabia exatamente o que viria como consequência: milhares de reportagens, uma avalanche de críticas e a oportunidade de captura do noticiário mundo afora. Essa atitude deveria provocar uma reação mais amadurecida do campo progressista: mais do que potencializar o gesto, deveríamos estar discutindo o quanto o espaço comunicacional é vulnerável a esses truques pensados para gerar engajamento e reações emocionadas.
Isso porque, nesses tempos de guerra cultural, o extremismo de direita necessita de uma esquerda permanentemente engajada e mobilizada para reatividade: a guerra só existe na medida em que meu antagonista aceita os termos do embate. Não podemos falar em simetria, mas de uma energia que se alimenta da reciprocidade. O desafio do presente é a libertação das esquerdas para estabelecer uma nova pauta de preocupações, uma nova linguagem que a alivie de estar sempre reagindo e refutando as idiotices de extremistas mal intencionados.
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