Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
A pesquisa de opinião publicada pelo instituto Quaest revela o retrato de um governo em crise. Se partirmos do pressuposto de que a pesquisa tem credibilidade, concluiremos que a aprovação de Lula definha em um dos territórios mais importantes para sua pretensão eleitoral: o Nordeste. Mais do que isso, o brasileiro de Norte a Sul se mostra muito insatisfeito com os efeitos da inflação dos alimentos e dos combustíveis, que penaliza os mais pobres.
A pesquisa mostra que a crise em torno de pix foi apenas a cereja do bolo de um processo de desgaste que se iniciou há meses, quando a alta do dólar e a falta de um planejamento agrícola mais estratégico começou a pesar no bolso do assalariado como inflação. O aumento dos preços não acontece de uma hora para outra - vai acumulando mês a mês, e explica as tensões que marcam os percalços da relação do governo com o Banco Central.
De um lado, tivemos a autoridade monetária anunciando o cenário de alta dos juros no esforço de segurar os preços, do outro, um presidente inconformado, que, por meio de vários deslizes, teve sua cota de responsabilidade na desvalorização do dólar e no aumento da incerteza do mercado sobre a responsabilidade fiscal. O resultado? Mais inflação, mais desgosto do brasileiro, mais volatilidade cambial. Mesmo Gabriel Galípolo, novo presidente do BC indicado por Lula, não teve outra alternativa a não ser seguir com a tendência de alta dos juros.
Essa conjunção de fatores explica, em parte, por que os últimos meses foram de aceleração da desaprovação do governo, agravada pela falta de uma comunicação mais afinada. Não demorou muito para que possíveis rivais aproveitassem a janela de oportunidade. Gilberto Kassab fez um movimento hostil, chamando Fernando Haddad de fraco e indicando um possível rompimento do PSD com o PT na composição eleitoral de 2026. Lula depende mais de Kassab do que o contrário: o psdista foi o grande vitorioso das eleições municipais do ano passado, um capital político determinante para o sucesso de uma campanha majoritária que tem tudo para ser muito competitiva.
Kassab vaticinou, ameaçador: se a eleição fosse hoje, Lula perderia. Uma declaração difícil de refutar, considerando o retrato da aprovação que temos hoje. O mais otimista dos leitores de conjuntura entende o momento desfavorável para o PT, especialmente quando conjugamos o humor político nacional com a cena internacional, onde é evidente o vigor da direita nas urnas.
Eu acrescentaria uma variável na leitura da crise: o potencial uso político das redes sociais para favorecer ou desfavorecer governos, viabilizar políticas e candidatos. E nem falo de estratégias digitais de certos grupos, mas de um interesse corporativo em manipular a temperatura da opinião pública via algoritmo, uma variável poderosa muito difícil de conter pela regulação jurídica. O mais recente artigo de Anne Applebaum publicado na revista The Atlantic sintetiza essa preocupação contemporânea: figuras como Elon Musk e suas empresas de tecnologia estão dificultando eleições e governos democráticos mundo afora. A crise, como vimos, é complexa, e o tempo para resolvê-la talvez seja curto demais.
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