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Bolsonaro no banco dos réus: e agora?
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor

Bolsonaro no banco dos réus: e agora?

Existe uma expectativa de que o processo contra o ex-presidente se desenvolva rápido e seja concluído ainda em 2025, evitando que a repercussão midiática do caso contamine a dinâmica eleitoral de 2026
Ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: EVARISTO SA/AFP)
Foto: EVARISTO SA/AFP Ex-presidente Jair Bolsonaro

Um dos mais aguardados fatos políticos previstos para 2025 aconteceu: o Ministério Público apresentou denúncia contra Jair Bolsonaro e general Braga Neto pela prática por vários crimes, entre os quais destaco o de organização criminosa e abolição violenta do Estado de Direito. Existe uma expectativa de que o processo se desenvolva e seja concluído ainda em 2025, evitando que a repercussão midiática do caso contamine a dinâmica eleitoral de 2026. Embora muito possa acontecer, embaralhando ainda mais o cenário, podemos já avaliar os possíveis efeitos que esse processo terá na conjuntura política dos próximos dois anos.

A avaliação é desafiadora - e interessante - porque estamos diante de um horizonte de dificuldades tanto para a direita como para a esquerda. Cada campo conta com seus desafios, e a sorte de um dependerá em grande medida da capacidade dos antagonistas de conter os danos em seu próprio flanco.

Da parte de governo, temos um momento muito desanimador, com baixíssimo índice de aprovação popular e uma dificuldade política de corrigir rumos. Os problemas são da ordem da articulação política, da formação dos quadros de governo, de definição de programas e prioridades e, também, de comunicação.

Diante de transformações estruturais importantes da sociedade, de fundo cultural, e de um momento econômico em que a inflação pressiona o preço dos alimentos e o poder de compra dos mais pobres, o governo patina, ainda muito apegado às fórmulas que foram bem-sucedidas quando Lula viveu seus dois primeiros mandatos.

A descrença da população em relação ao governo, a sensação de que há uma desmedida intenção arrecadatória e a percepção de que o diálogo com as necessidades reais da sociedade está prejudicado são apenas algumas das nuances do resultado das pesquisas que avaliaram a aprovação do governo e as intenções de voto para as eleições de 2026. O resultado das duas consultas foi, para o grupo governista, desolador.

Isso poderia ser um presente para uma direita organizada, unida em torno de uma liderança que pudesse explorar as fragilidades de um governo que se tornou tão impopular. A denúncia de Bolsonaro, longe de auxiliar, prejudica o aproveitamento da oportunidade. Isso porque, apegado à ideia de ser candidato, paranoico e disposto a mobilizar seu aparato comunicativo para inviabilizar potenciais concorrentes em seu campo, Bolsonaro é uma pedra no sapato para outros nomes que possam surgir, como o de Tarcício de Freitas ou Ronaldo Caiado. São nomes desconhecidos fora de seus estados de origem e que precisam de tempo e trabalho de marketing para ganhar musculatura nacional.

A forma como o processo vai se desenrolar, caso Bolsonaro se torne réu, vai ser determinante. O Poder Judiciário e o Ministério Público precisarão de um nível extraordinário de sobriedade e tecnicidade para que o processo não seja percebido, na opinião pública, como espaço de martirização de um líder e não como reparação para uma violação à democracia empreendida por um grupo aloprado. Embolado, confuso e preocupante, o futuro do Brasil nunca dependeu tanto do Direito e do que as instituições do sistema de justiça fazem dele.

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