
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Tenho acompanhado com atenção os movimentos de Donald Trump em seu segundo mandato presidencial, ciente de que toda marola na economia americana tem o potencial de desorganizar o equilíbrio político por aqui. Passado um mês desde a posse, observamos um meio político um tanto atarantado com a intensidade e o volume de medidas executivas sobre os mais variados assuntos, e uma sociedade civil não inteiramente ciente do impacto de boa parte delas em suas vidas.
Durante a semana, na terça-feira de carnaval, Trump se dirigiu aos parlamentares para um discurso importante. Falou longamente, por quase duas horas, e repetiu vários de suas promessas de campanha. Com pretensões salvíficas, Trump prometeu aos americanos um reencontro com a grandeza perdida, o resgate da sensação de potência que comove e inspira o americano.
O clima do recinto onde Trump discursou se manteve tenso do começo ao fim, apesar das palmas entusiasmadas de sua claque mais fiel no partido Republicano. Derrotados, em menor número, os democratas ensaiaram protestos ao longo do discurso: um de seus representantes foi retirado por se manter de pé, vociferando contra o presidente. Impassíveis, os juízes da Suprema Corte guardaram sua postura de esfinge, ouvindo as promessas e avaliações sem esboçar reação positiva ou negativa.
Antes do ato solene, especulava-se que o teor do discurso seria apaziguador, quiçá conciliatório, depois de um dia de queda sensível dos índices dos mercados norte-americanos. Investidores têm reagido mal ao que se pode, sem risco de excesso, chamar de guerra das tarifas. Desde que assumiu, o presidente americano tem reiterado seu projeto de sobretaxar produtos importados sob pretexto de proteger a economia nacional e retaliar supostas práticas históricas de exploração de países como Canadá, México, China, Índia e Brasil. Ao contrário do que um trumpista pode imaginar, a escalada de tarifas é um pesadelo que tende a agravar o maior dos problemas da classe média: a inflação. Diante da incerteza e do risco crescente, os mercados retraem, no esforço de avaliar o estrago.
Não se pode dizer que a tensão foi resolvida, ao contrário. Apesar de um sutil recuo em favor das montadoras, a imprevisibilidade de um presidente voluntarioso e populista não tem caído bem nem para o setor produtivo nem para seus apoiadores no partido republicano. Se não chega de forma imediata, a conta não tarda: tão logo os preços começarem a subir, afetando o consumo, as tarifas se mostrarão indigestas e poderão se transformar em queda de popularidade e aprovação.
É um desafio entender o que leva o presidente Donald Trump a insistir numa política tarifária que o presidente canadense, sem eufemismo, definiu como "burra". Um jogo de perde-perde, onde tanto países importadores quanto exportadores mundo afora tendem a sofrer, sem que haja critério claro ou racional sobre o setor a proteger e o índice a aplicar. O presidente reconheceu que alguma turbulência virá, mas "valerá a pena". Se, nas redes sociais, uma turbulência rende atenção, é difícil acreditar que o caos se manterá divertido quando o bolso do americano apertar e o apetite pelo consumo refluir.
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