
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Uma semana de caos nos mercados levou muitos analistas a reconhecerem, com pessimismo, que estamos adentrando numa era nova, marcada por instabilidade, imprevisibilidade quanto ao futuro e avanço da desigualdade e da pobreza.
Não deixa de ser assustador constatar o quão frágil é o sistema político de uma das economias mais poderosas do mundo, que, à mercê de uma liderança errática e populista, acabou por desencadear, em questão de horas, uma desorganização importante da economia mundial.
Como sobreviver a tanta ansiedade e a tanta incerteza? Como continuar acreditando na nossa vida de cada dia, nós, meros mortais com pouca influência nas grandes decisões que moldam as sociedades, os mercados, o mundo? A sensação de impotência é também um fator de adoecimento, quando nos damos conta que nossas condições de existência são profundamente vulneráveis a fatores tão alheios à nossa capacidade de controle.
Parece que, mais do que nunca, necessitamos dos livros, das palavras e das ideias - especialmente em tempos em que inteligência artificial é vista por muitos como panaceia para os nossos dilemas.
Essa fé na palavra vem com mais força nesta semana que também ficará marcada como a de início da Bienal do Livro do Ceará, um momento tão importante para quem se dedica à cultura do livro e à leitura em nosso estado. A festa é uma das maiores do país, sempre com recorde de público, e, nos seus momentos de maior movimento, lota os pavilhões do Centro de Eventos com uma multidão muito curiosa pelos volumes vendidos a preços convidativos nos estandes das múltiplas livrarias e editoras.
Com isso, cria-se uma constatação ambivalente: neste mundo em que há tanta pulsão de morte, surge, sempre, uma pulsão de vida latente que inspira as pessoas a buscarem alternativas para seguir suas vidas com alguma esperança.
Por isso, gosto de pensar que os livros são lugares de consolo, conforto e de reflexão poderosos o suficiente para nos proteger e orientar sobre os efeitos da crise. Chamo atenção do leitor para uma obra muito interessante, do intelectual francês Edgar Morin, em parceria com Patrick Viveret. No livro "Como viver em tempo de crise?", Morin explora a ideia de que a crise anuncia o fim de um mundo, mas que também se revela como um momento muito precioso, onde nascem as oportunidades.
Não me refiro aqui, obviamente, a oportunidades de proveito individual sobre o sofrimento alheio, mas sobre a chance de reconhecermos as fissuras do que não vai bem a fim de que edifiquemos um modo de vida mais satisfatório. Quando tudo vai mal e todos concordam que estamos perdidos, surge uma luz que anuncia a possibilidade de um caminho outro. Penso que estamos em um momento como esse, que nos convida a pensarmos juntos nas alternativas de que dispomos.
Na companhia de Italo Calvino e seu ótimo livro "Seis propostas para o próximo milênio", quero pensar na responsabilidade que me cabe para sobreviver ao caos, de mãos dadas com os que me são caros.
Serenidade, compromisso com o bem, cuidado com o outro e fé na democracia serão sempre lições dignas de serem reafirmadas, por mais difíceis e assombrosos que sejam os cenários que se anunciam.
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