
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
Juliana Diniz é doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora do site bemdito.jor
A guerra comercial entre Estados Unidos e o mundo nos trouxe algumas constatações. A primeira é a de que Donald Trump tomou uma série de decisões temerárias com base em uma visão de economia definida pelos especialistas como "amadora", afeita ao mercantilismo do século XIX. A segunda constatação é a de que não parece haver um plano claro para a política tarifária, de modo que boa parte do que ainda vai acontecer está vulnerável ao voluntarismo de um governante imprevisível.
Essas constatações, que se tornaram quase um consenso entre os analistas especializados em economia, explicam a volatilidade dos mercados e o derretimento da credibilidade americana. Um sinal foi importante: a desvalorização dos papeis da dívida do Tio Sam, historicamente considerados um "porto seguro" para investimento em períodos de crise. É provável que Trump tenha retrocedido nas tarifas por conta desse fator, ainda que seus bajuladores atribuam o recuo à inteligência do autor da obra A arte da negociação.
Acho que devemos voltar nosso olhar para outro livro. Em meio a movimentos tão irracionais de Donald Trump, o mais interessante tem sido observar o modo como a China tem reagido. Foi o economista Li Daokui, da Universidade de Tsinghua, que mencionou a importância da obra A arte da guerra, de Sun Tzu - um guia com mais de dois anos de existência. Segundo ele, mais do que se apegar a suas próprias ideias, Trump deveria estudar a China e seu grande livro.
Tzu afirma que "temos forçosamente de nos ocupar" com a arte da guerra porque "ela decide sobre a vida e morte, traz segurança ou ruína". A principal arma do comandante é o conhecimento: "se conheces o inimigo e a ti mesmo, então tu não precisas amedrontar-te perante cem batalhas". Mais do que isso, é indispensável a sagacidade para a antecipação e preparação: "quem antes do acontecer da guerra imagina muitas situações tem boas chances de vitória".
Ciente dos riscos representados por Trump e dada a experiência do primeiro mandato, a China parece ter se preparado para uma batalha que tem tudo para ser exauriente e penosa, pelo menos na imediatidade dos próximos meses. Conhecendo bem a sociedade americana e seu ímpeto pelo consumo, sabe que nada pode ser mais sofrido para eles do que a queda da renda provocada pela inevitável inflação. É possível que tenha fôlego para esperar alguns meses até o crescimento da desordem nos EUA.
Ao longo de décadas, a China trabalhou para se tornar uma robusta exportadora, ao mesmo tempo que diversificou seus investimentos em infraestrutura nas economias emergentes. Como diz Tzu, "um exército pode sem esforço percorrer grandes distâncias quando passa por regiões nas quais o inimigo não está" e "se nós conhecemos o lugar e o tempo da batalha que está por vir, então podemos reunir nossas forças de todas as partes".
Conhecendo bem seu opositor, a China dominou as regras da economia capitalista. Ensina um outro conselheiro da política, Maquiavel, autor de O Príncipe, que um governante virtuoso e sagaz é capaz de encontrar na má fortuna uma oportunidade de triunfo. Estaremos testemunhando a afirmação de uma nova hegemonia, agora no extremo Oriente? n
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