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60 anos do golpe militar e as que ousaram desobedecer 
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

60 anos do golpe militar e as que ousaram desobedecer 

Os recentes ataques à democracia brasileira e a possibilidade real de sua erosão nos impele a revisitar o passado e aprender com ele. A luta pela democracia é ininterrupta e alicerça-se em um profundo compromisso com a vida.
Tipo Análise
Artistas protestam contra a ditadura militar em fevereiro de 1968. Na imagem, Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker. (Foto: Arquivo Nacional)
Foto: Arquivo Nacional Artistas protestam contra a ditadura militar em fevereiro de 1968. Na imagem, Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker.

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Dentro de poucos dias, a fatídica data de 31 de março vem lembrar-nos do golpe militar que completará 60 anos. O tempo histórico nos revela tarefas complexas e inadiáveis. Corremos riscos nós e o futuro. A encruzilhada nos encara em cada esquina, estamos há tempos flertando com o abismo. O ar está pesado, pessoas revelam-se saudosas do terror dos anos de chumbo. A realidade é mascarada e falseada, a insensatez humana distorce, adultera e corrompe a verdade. O 8 de janeiro foi símbolo e prenúncio, ele nos presenteou com a pedagogia do alerta, com o sinal amarelo.

O momento presente implora por respostas, estas vêm em decisões que rechaçam e reclamam a substituição de nome de ditadores em logradouros e equipamentos públicos pelo nome de personalidades que lutaram pela democracia. A instalação da Comissão Nacional da Verdade também ecoa a busca por uma justiça que, até o momento, limitou-se a uma única condenação de militares. A arte e suas múltiplas manifestações também contribuem para desmistificar, esclarecer e fomentar debates.

No último sábado, fui ao cinema assistir a “A vida de Nicholas Winton”, a película conta a história do britânico que salvou 669 crianças judias das garras do nazismo. É um alento e um sopro de esperança constatar que o mesmo mundo que produziu Hitler, nos presenteou-nos com Nicholas Winton.

Na mesma semana, assisti a “Das que ousaram desobedecer”, peça teatral que narra a história de mulheres cearenses que enfrentaram a censura, a tortura o risco iminente de violência sexual e a própria morte. Rosa da Fonseca, Nadja Oliveira, Ruth Cavalcante, Helena Serra Azul, Beliza Guedes e tantas outras mulheres de corações enxarcados de coragem, desafiaram e destronaram o medo, num cenário obscuro e violento.

Elas encarnaram a promessa de um amanhã livre, mulheres que, ainda muito desconhecidas pelos próprios cearenses, foram fazedoras de esperança. “Das que ousaram desobedecer” nos lembra dos horrores da ditadura militar, a peça clama por visibilidade, debate, mas escolhemos o silêncio, não sei se por medo ou conivência.

A atriz que encena o papel de Rosa da Fonseca diz à plateia: “a luta é um substantivo coletivo”, dela também que é disparado o trecho: “o medo é uma coisa complexa ou ele te paralisa, ou ele te faz reagir”. O medo de discutir e passar a ditadura militar a limpo ainda poderá nos destruir. Os recentes ataques à democracia brasileira e a possibilidade real de sua erosão nos impele a revisitar o passado e aprender com ele. A luta pela democracia é ininterrupta e alicerça-se em um profundo compromisso com a vida.

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