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Temos mesmo que esperar 131 anos?
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

Temos mesmo que esperar 131 anos?

É inevitável nos perguntarmos acerca das escolhas e dos caminhos que devemos adotar para que a igualdade entre homens e mulheres transite de uma mera intenção para uma realidade plena.
Tipo Análise
A questão das mulheres não está dissociada da estrutura econômica, política, cultural e religiosa (Foto: Andrea Rankovic/Freepik )
Foto: Andrea Rankovic/Freepik A questão das mulheres não está dissociada da estrutura econômica, política, cultural e religiosa

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Em um prognóstico recente, o Fórum Econômico Mundial atestou que a igualdade entre homens e mulheres será realidade apenas daqui a 131 anos, ou, em outras palavras, no ano de 2154. Salta aos olhos o longínquo horizonte temporal que separa a realidade presente da promessa de igualdade de gênero, a distância considerável e impalpável desafia a capacidade humana de planejar, de estabelecer metas e reformas.

Uma questão é irrefutável: os esforços devem iniciar agora, mas a colheita será gradativa, no ritmo de avanços e retrocessos, o compromisso com o futuro e com as próprias gerações é o que deve conduzir a política na atualidade.

Entretanto, o diagnóstico do presente revela infinitos e complexos problemas. Nesse cenário desalentador, é inevitável nos perguntarmos acerca das escolhas e dos caminhos que devemos adotar para que a igualdade entre homens e mulheres transite de uma mera intenção para uma realidade plena.

As guerras, os desastres ambientais, o desemprego alarmante, o crescimento vergonhoso da pobreza no mundo e o perigo constante de uma nova escalada do nazifacismo parecem nos informar que existem questões mais importantes que igualdade do gênero para se resolver. Contudo, esse é um grande equívoco, pois todos os problemas da humanidade perpassam pelas questões de gênero. Esse é um ponto que muitos diagnósticos e agendas para as mulheres parecem descartar.

A questão das mulheres não está dissociada da estrutura econômica, política, cultural e religiosa. O prognóstico de igualdade de gênero enunciado pelo Fórum Econômico Mundial precisa de um esforço para compreender o xadrez da geopolítica mundial dentro do qual subjaz o xadrez da geopolítica feminina. A realidade não é unívoca. Além da desigualdade entre homens e mulheres temos que pontuar a desigualdade no interior do próprio universo feminino.

Algumas questões parecem insolúveis. Os fluxos e contrafluxos nos advertem que a luta é constante e espinhosa. Todavia, no pequeno espaço deste artigo, eu desejo fazer brotar e florescer uma questão: qual é o interesse do Fórum Econômico Mundial - constituído por homens brancos e poderosos - com a organização das pautas femininas? Que lugar as mulheres ocupam nessa agenda feita para elas e não com elas?

A não participação das mulheres na agenda destinada a elas é uma demonstração do caráter prescritivo e inautêntico de um projeto que padroniza metas e itinerários para países não apenas diferentes, mas profundamente desiguais.

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