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A crise social e a representatividade feminina na política
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

A crise social e a representatividade feminina na política

É preciso que se diga que a violência política de gênero é um instrumento que torna a política menos democrática e plural, consolidando aquela como espaço de privilégios de classe, raça e gênero.
Tipo Opinião
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 12.01.2024: Luizianne Lins, deputada federal e ex-prefeita é entrevistada na rádio O POVO CBN. (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 12.01.2024: Luizianne Lins, deputada federal e ex-prefeita é entrevistada na rádio O POVO CBN.

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Uma das marcas dos tempos atuais é a dificuldade em produzir um diagnóstico acerca do modelo social vigente. Os conceitos de sociedade do cansaço (Byung-Chul Han), sociedade da decepção (Gilles Lipovetsky) e tempos líquidos (Zygmunt Bauman) exemplificam os esforços, para denominar as tragédias sociais e os sentimentos comuns que assolam os indivíduos.

Um eixo comum às teses que mobilizam esforços a fim de explicar o caos contemporâneo é a unanimidade em relação à existência de uma crise social. Contudo, não há consenso quanto à natureza desta.

Nessa seara, as tribulações sociais apresentam a feição de uma Hidra, figura mitológica constituída de várias cabeças. Dentre as diversas facetas da Hidra, a política ocupa um lugar central nas análises.

A crise política é percebida por muitos como resultado direto das instabilidades econômicas, para outros, a erosão do papel atribuído historicamente ao Estado é o fundamento das turbulências na política. Outra análise aponta que a crise na política se confunde com uma crise na dimensão discursiva que, por sua vez, deriva da onipresença da tecnologia na vida cotidiana.

No reinado das mídias sociais, prevalece a política da negação da política, a vacuidade de projetos, a perda de perspectiva da história como motor humano, tudo é fugaz e sem amarras com o passado ou com o futuro.

A cegueira voluntária nega a existência de classes sociais e dos determinantes econômicos, sociais e culturais no plano político. Nessa perspectiva, o senso de coletividade, de projeto comum e de uma cidadania ativa declina na prevalência dos interesses individuais e seus microprojetos.

A política, desse modo, distancia-se do horizonte público e dos discursos abrangentes e extensivos. Não se podem minimizar os efeitos psicológicos do empobrecimento dos discursos e dos debates políticos.

A desorientação, a perda da capacidade de articular elementos da conjuntura e a alienação são sintomas dos indivíduos que fazem a leitura política a partir das lentes das plataformas digitais.

A racionalidade na política se esvai no jogo do vale tudo, na estética do horror, catalisando todos os preconceitos sociais que se materializa no mais profundo ódio ao diferente.

As últimas eleições no Brasil foram verdadeiros laboratórios da violência na política, notadamente, a violência política de gênero que se materializa em várias dimensões.

É preciso que se diga que a violência política de gênero é um instrumento que torna a política menos democrática e plural, consolidando aquela como espaço de privilégios de classe, raça e gênero. Ao analisarmos a composição dos políticos eleitos e a composição da população brasileira, vimos que os perfis são diametralmente opostos.

Historicamente a política foi o último espaço ao qual as mulheres tiveram acesso. Essa questão é bastante compreensível quando lembramos que a política é o lugar do poder e das macros decisões.

A sub-representação feminina na política é um problema mundial, estando presente em países desenvolvidos e periféricos e em diferentes regimes políticos. Os grandes ditadores da história foram e são homens. Entretanto, a democracia mostra-se ainda refratária à maciça presença de mulheres na política.

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