
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
Observar os últimos acontecimentos no Brasil revela-se um trabalho penoso. Eu abrigo uma profunda sensação de que estamos presos em areia movediça que nos afunda impiedosamente. Os fatos retratados na mídia parecem irreais de tão absurdos que são. Uma conhecida joalheria teve que pagar indenização a uma funcionária, porque esta foi obrigada a selecionar apenas vendedoras magras e de cabelo liso.
Na mesma semana, uma marca de bolsas e sapatos disse que sua loja veio para o Ceará graças às orações dos desempregados. O primeiro caso exala preconceito, uma das maiores irracionalidades humanas. No segundo, sou obrigada a fazer um questionamento: o que motiva um executivo explicar questões de natureza político-econômica a partir de uma visão transcendental e religiosa?
Se sairmos do mundo empresarial para a política, as decepções aumentam. Em um vídeo que circulou na internet, a deputada estadual Mical Damasceno (PSD-MA) defendia uma sessão na Assembleia Legislativa somente com homens. A parlamentar, ao mesmo modo do executivo, apresentou explicações sobrenaturais para sua fala, disse que foi uma ideia divina.
Para mim, foi impossível não recordar Paulo Freire e sua "Pedagogia do Oprimido", como é difícil para mulheres - historicamente oprimidas - libertar-se do patriarcado opressor. É fato inconteste que precisamos de uma educação libertadora no Brasil.
E por falar em educação, foi lamentável a censura do livro "O avesso da pele", ganhador do prêmio Jabuti. O fato apenas dá mostras de que o ódio à cultura e ao esclarecimento está na ordem do dia.
À essa altura, quero tranquilizar o leitor, visto que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) já diagnosticou a causa dos problemas brasileiros: testosterona! Segundo o deputado, o Brasil precisa de homens com testosterona.
É lamentável viver em um País periférico com graves problemas estruturais, entre eles a fome e um deputado federal - pago com dinheiro do contribuinte - que dá de ombros para as inúmeras mazelas da população brasileira, enxergando apenas sua obsessão pelo estereótipo de masculinidade dominante.
Faz tempo que aprendi a lidar com a realidade que as promessas burguesas de igualdade, liberdade, escolaridade universal, entre outras, não foram cumpridas. Contudo, não estou preparada para o retorno à era medieval.
Escrevo esse texto na sala do meu apartamento, em um domingo tranquilo. Fico imaginando o que essa semana nos reserva e sou consumida por dois medos. O primeiro é que nasça no Brasil um movimento pedindo a volta da monarquia e, o segundo, que o próximo episódio do "Conto da Aia" seja baseado na realidade brasileira.
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