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Kamala Harris: ser mulher e negra é suficiente?
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

Kamala Harris: ser mulher e negra é suficiente?

Após a desistência da reeleição do presidente Joe Biden por motivos fartamente explicados na mídia, a sua vice Kamala Harris despontou como favorita para encarar Donald Trump
Tipo Opinião
ATUAL vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris  (Foto: Brendan SMIALOWSKI/AFP)
Foto: Brendan SMIALOWSKI/AFP ATUAL vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris


Nas últimas semanas, a opinião pública internacional acompanha de perto o desenrolar das candidaturas à presidência do Estados Unidos. O interesse se justifica pela posição hegemônica que o país exerce na geopolítica atual. Os Estados Unidos possuem o maior produto interno bruto (PIB) do mundo, e suas decisões têm um peso preponderante em organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).

Em suma, estamos falando do país mais poderoso do mundo. Após a desistência da reeleição do presidente Joe Biden por motivos fartamente explicados na mídia, a sua vice Kamala Harris despontou como favorita para encarar Donald Trump na eleição que se avizinha. A aposta em Kamala Harris está alicerçada em dois pilares: primeiro, o medo do retorno de Trump; segundo, o fato da candidata ser mulher e negra.

É sabido que o atual sistema se desenvolve e expande-se com base na exploração de indivíduos e na degradação da natureza. Percebe-se também que o mundo está sedimentado em profundas desigualdades entre países e regiões. As desigualdades, quando analisadas sob o ponto de vista dos grupos sociais, revelam que mulheres e negros são os que sofrem historicamente maiores explorações e opressões.

Por esse motivo, é questão de justiça e de igualdade que esses grupos tenham representatividade na política e em outras searas sociais. Quem acompanha esta coluna sabe do meu empenho pelo reconhecimento e fortalecimento da dignidade das minorias, ou melhor dizendo, das maiorias que foram minorizadas.

Contudo, a política institucional é um universo bastante complexo e, nesse domínio, as questões ultrapassam os marcadores sociais de gênero, raça, sexualidade, entre outros. Precisamos refletir sobre o projeto político, econômico, social e ambiental que o corpo feminino e negro de Kamala Harris encarna. Haverá alternativa ao projeto neoliberal que vigora há mais de cinquenta anos e traz efeitos sociais nefastos? Haverá continuidade na política de austeridade, nas guerras e no imperialismo?

Se a resposta for “sim”, pouco importa se as decisões vão partir de um corpo-sujeito masculino, feminino, negro ou branco, elas serão sempre deletérias e desumanas. Quero deixar suficientemente claro que acho Donald Trump um desastre. Entretanto, não consigo enxergar em Kamala Harris um projeto que promova rupturas com esse horror que está aí no qual a guerra, o fundamentalismo de mercado e a retirada dos direitos sociais são o paroxismo da barbárie.

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