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Ameaças e xingamentos: o universo obscuro da internet
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

Ameaças e xingamentos: o universo obscuro da internet

É ilusório acharmos que alcançaremos a igualdade de gênero sem representatividade política. Ao lado do Brasil, países como o México e a Argentina despontam como lugares onde existem muitos casos de violência política de gênero no meio virtual
Tipo Opinião
Candidata Emília Pessoa (PSDB) no debate do O POVO com os postulantes de Caucaia (Foto: Fco Fontelene/ O POVO)
Foto: Fco Fontelene/ O POVO Candidata Emília Pessoa (PSDB) no debate do O POVO com os postulantes de Caucaia


A deputada estadual Emília Pessoa, candidata à prefeita de Caucaia-CE pelo PSDB, vem sofrendo ameaças de morte, o caso foi noticiado no site do partido pelo qual a candidata concorre ao pleito municipal deste ano. A situação traz a lume a violência política de gênero, fenômeno ainda pouco conhecido e debatido pela sociedade. Embora a prática tenha sido criminalizada desde 2021, os casos crescem em grandes proporções.

A violência política é uma das principais causas, senão a preponderante, na desistência das candidaturas femininas. Sob a égide do medo, muitas mulheres não denunciam seus algozes, fato que nutre a impunidade. Manuel Castells, na obra Ruptura, reflete acerca do impacto político que o medo impõe. Segundo o autor: “o medo é a tática emocional básica na manutenção do poder político”.

O medo exacerbado se alimenta da leniência da sociedade e da impunidade dos perpetradores. A sensação de insegurança aumenta quando as ameaças são advindas do meio virtual. Nesse terreno, os criminosos agem de modo mais violento, uma vez que muitos ainda entendem que a internet é destituída de regras, direitos e deveres.

Um levantamento realizado pelo jornal O Estado de São Paulo mostrou que, no ano de 2020, 75% das candidatas à prefeita em capitais brasileiras sofreram algum tipo de violência e apontou a rede mundial de computadores como o espaço em que ocorrem a maioria desses ataques. As ações perpetradas nas redes sociais incluem ataques de cyberbullyng, suspensão e hacking das contas das candidatas, reprodução de fake news e memes com o intuito de vilipendiar a imagem e a honra das mulheres candidatas.

Ao lado do Brasil, países como o México e a Argentina despontam como lugares onde existem muitos casos de violência política de gênero no meio virtual. No país presidido por Javier Milei, 85% das mulheres políticas sofreram violência de gênero em seus perfis no Twitter, Facebook e Instagram. Na raiz desses crimes, estão a misoginia e a campanha para que mulheres não adentrem na política, seara que continua sendo o calcanhar de Aquiles das mulheres. A agenda 2030 da ONU estabelece como sua quinta meta a igualdade de gênero, para tanto elege a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra todas as mulheres.

É ilusório acharmos que alcançaremos a igualdade de gênero sem representatividade política. Faz-se necessário um trabalho em rede que apoie as candidatas, esclarecendo-as, dando suporte emocional e assessoria jurídica, em suma, fortalecendo as mulheres, para que elas abandonem atitudes de resignação, imobilismo e fatalismo.

Cientistas políticos como Yascha Mounke e Steven Levitsky apontam que o advento das mídias sociais inaugurou um novo capítulo na história da democracia, lastimavelmente um capítulo negativo escrito com as letras da mentira, da manipulação e da violência de gênero. Nesse cenário, os grupos sociais que historicamente foram os mais afetados com preconceitos e exclusões como os negros e as mulheres são os mais prejudicados.

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