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Quem está disposto a defender a democracia?
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É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

Quem está disposto a defender a democracia?

Penso que a profusão de obras que abordam o tema da democracia é um sintoma da erosão dela; quanto mais se teoriza mais ela perde a substância na prática
Tipo Opinião
José Luiz Datena (PSDB) agrediu o adversário Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira, durante debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução José Luiz Datena (PSDB) agrediu o adversário Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira, durante debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo (SP)

No último domingo, dia 15 de setembro, foi comemorado o Dia Internacional da Democracia. Por ocasião da data, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) gravaram vídeos em suas redes sociais enaltecendo a importância dessa forma de governo que, segundo Roger Osborne, “é a conquista mais admirável da humanidade”. Na mesma direção, Winston Churchill declarou tempos atrás que “a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos”.

O clima de efusividade e de intenso entusiasmo democrático foi pausado com a lamentável cena protagonizada pelo apresentador José Luiz Datena. Ele, na condição de candidato à Prefeitura de São Paulo, arremessou uma cadeira no concorrente Pablo Marçal durante um debate transmitido ao vivo pela televisão. A imagem violenta é a negação da política e da própria democracia.

Nos últimos debates, faltaram diálogos e reflexões sobre problemas estruturais das cidades, bem como propostas exequíveis. Por outro lado, sobraram acusações, difamações e depreciamentos mútuos, tudo a gosto da sociedade do espetáculo, dos memes e da profusão de imagens sensacionalistas que hipnotizam os sentidos humanos na mesma proporção que entorpecem a razão.

Quem, assim como eu, aventura-se a estudar a democracia percebe que as reflexões atuais são bem menos entusiasmadas que as de outrora, expressões como crise de legitimidade (Castells), mal-estar na política (Tzvetan Todorov), desmocratização (Charles Tilly) e reflexões mais contundentes que apontam para a morte da democracia (Steven Levitsky) dão o tom.

O consenso se ergue sob o diagnóstico que aponta para uma crise e para o desvelamento do rol de inimigos da democracia que, de forma genérica, são as fakes news, a perda de direitos e o empobrecimento da população que passa a apoiar candidatos populistas e autoritários, tal como a emergência dos chamados outsiders com suas narrativas ultraliberais e antiestablishment.

Penso que a profusão de obras que abordam o tema da democracia é um sintoma da erosão dela; quanto mais se teoriza mais ela perde a substância na prática. Nesse cenário, algumas perguntas são inevitáveis: qual caminho devemos trilhar para reverter essa situação? Por onde começar? Como combater a desinformação, o desencanto pela política? E, na mesma direção, pergunto como mobilizar as pessoas para o debate e a participação?

A reeducação do olhar sobre a política se faz necessário; devemos descontruir o senso comum cristalizado que reduz a democracia ao dia da eleição. A democracia é uma forma de ser e estar no mundo, sistema político que se fundamenta na defesa dos direitos, mas é preciso consciência crítica para saber disto. E falta-nos ainda um modelo de educação política.

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