Logo O POVO+
36 anos da Constituição Federal: caminhos e descaminhos
Foto de Kalina Gondim
clique para exibir bio do colunista

É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro

Kalina Gondim comportamento

36 anos da Constituição Federal: caminhos e descaminhos

Apesar de escrita por uma maioria conservadora, apresenta um texto progressista, atento aos direitos sociais, às liberdades de expressão, reunião, associação, entre outras
Tipo Opinião
Promulgação da Constituição Federal em 1988 (Foto: Arquivo / Agência Senado)
Foto: Arquivo / Agência Senado Promulgação da Constituição Federal em 1988

.

Há 36 anos, a atual Constituição era promulgada. Com ela nascia a esperança da construção de um novo capítulo na vida política brasileira, a inauguração de um novo Estado e uma nova ordem jurídica. A sétima Constituição brasileira despontou após 21 anos mergulhados no aniquilamento dos direitos, na supressão das liberdades, na tortura, e na perseguição. O pesadelo atingiu o paroxismo com a edição do Ato Institucional Nº 5 (AI–5). O cidadão brasileiro, após mais de duas décadas, descortinava novas possibilidades, recobrava o exercício das liberdades de expressão, de reunião e associação.

As mudanças no campo dos direitos deixaram inalteradas as estruturas e relações de poder. Somos, até os dias atuais, herdeiros de uma ordem colonial, patriarcal e escravista. No plano das relações externas, não fomos capazes de romper com os laços da dependência econômica e subordinação política. A despeito das questões arroladas, não se pode ofuscar o brilho da Constituição cidadã por inúmeros motivos.

A constituinte se desenrolou em uma atmosfera democrática, participativa e propositiva. A composição da constituinte não retratava fielmente o retrato da população brasileira: eram apenas 26 mulheres para mais de 500 homens. Em vinte meses de trabalho, diferentes mulheres lutaram por pautas igualitárias entre gêneros.

O chamado lobby do batom deu voz pública a milhares de mulheres, trazendo à tona questões próprias do universo feminino que permaneceram invisíveis para a política. A igualdade entre homens e mulheres expressa no Artigo 5º, inciso I contrasta de modo veemente com a visão de mulher expressa nas Ordenações Filipinas e no Código Civil de 1916.

A Constituição Federal, apesar de escrita por uma maioria conservadora, apresenta um texto progressista, atento aos direitos sociais, às liberdades de expressão, reunião, associação, entre outras. Congregando múltiplas vozes e visões de mundo, a Constituição, em seu hibridismo, abriga concepções liberais com objetivos sociais factíveis apenas com forte atuação Estatal. O compromisso com as gerações futuras está evidenciado na preocupação em reservar um capítulo dedicado ao meio ambiente, enaltecendo neste o princípio da sustentabilidade ambiental.

Entre os objetivos da República Federativa do Brasil, destaco a preocupação em erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e regionais, assim como o combate a todo tipo de preconceitos e discriminações. Promulgada em 1988, A Constituição em um curto espaço de tempo encontrou pelo caminho o duelo com o neoliberalismo que iniciava por aqui sua longa, devastadora e atualíssima política.

Primeiro, veio a busca pelo consenso de que tínhamos dois inimigos a derrotar: o Estado e a esfera pública. A terraplanagem neoliberal utilizou ao longo do tempo várias roupagens, do ataque aos marajás e a ineficiência estatal com Fernando Collor ao enaltecimento das privatizações e do mercado na era Fernando Henrique Cardoso (FHC).

No plano Internacional, em 1997, o Banco Mundial publicava o documento “O Estado num mundo em transformação” que fornecia as bases teóricas e procedimentais para a reforma do Estado brasileiro. Com o tempo, as incompatibilidades entre o texto da Constituição que prima pela defesa dos direitos sociais e as metas de enxugamento com os gastos públicos tornaram-se expostas, a guilhotina da disciplina fiscal, os assédios reformistas, a escalada do autoritarismo na política, as perseguições as liberdades sexuais e religiosas e as tentativas reiteradas de reduzir a laicidade do Estado a pó são obstáculos que temos que superar.

Foto do Kalina Gondim

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?