É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
É doutora em Educação pela UFC. Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro
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“A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A dormir cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia”. Esse trecho é parte da crônica “Eu sei, mas não devia”, de Marina Colasanti, escrita em 1972, mas absolutamente válida para retratar o cotidiano dos trabalhadores brasileiros na atualidade.
A proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala 6x1, ou seja, uma folga a cada 6 dias de trabalho é de autoria da deputada federal Érika Hilton (Psol) e conseguiu apoio para tramitar no Congresso Nacional. A PEC vem suscitando debates e reflexões acerca dos valores que alicerçam a sociedade que séculos atrás se autointitulou de sociedade do negócio, não por acaso, negócio, etimologicamente, significa negar o ócio.
A restrição ao lazer, ao livre pensar e a centralidade em um trabalho de longa jornada, rotineiro, repetitivo e esmagadoramente adoecedor, fez eclodir na medicina a chamada Síndrome de Burnout, uma espécie de exaustão total que acomete a máquina humana, um fenômeno ligado ao trabalho e que afeta sobremaneira os trabalhadores.
A PEC 6x1 acomoda o tempo em um lugar de destaque, despertando questionamentos nos trabalhadores que veem a ampulheta de seus tempos se esvair, enquanto eles estão em caixas de supermercados e lojas de shoppings centers.
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"Acredito que a imensa massa de trabalhadores está em um misto de ansiedade e esperança, notadamente as mulheres que, para além da escala 6x1, são desafiadas pelas intermináveis horas dedicadas ao trabalho doméstico, um trabalho invisível e não remunerado"
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Preenchidos por um trabalho e consumo alienados, a maior parte de nós nunca se questionou sobre como gastamos o nosso maior bem, para quem se beneficia da escala de trabalho 6x1: Time is money! Já podemos prever uma avalanche de argumentos em desfavor da PEC, certamente irão bradar que o desemprego e a informalidade dispararão, contudo para alguns analistas a diminuição na jornada do trabalho implicará no aumento de postos para pessoas que, no momento, estão desempregadas.
Na apoteose do intenso produtivismo e das metas sobre-humanas, o extremo cansaço, a precariedade nas condições de trabalho e de salários são questões empurradas para debaixo do tapete. Acredito que a imensa massa de trabalhadores está em um misto de ansiedade e esperança, notadamente as mulheres que, para além da escala 6x1, são desafiadas pelas intermináveis horas dedicadas ao trabalho doméstico, um trabalho invisível e não remunerado.
Eu, particularmente, estou curiosa para ver como terminará toda essa discussão. De um lado, está um governo em genuflexão para o mercado e de outro, milhões de trabalhadores que, ao final da vida, poderão dizer para si as reflexões postas na música “Epitáfio” cantada pelo Titãs: “devia ter trabalhado menos, ter visto o sol se pôr”.
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