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A lente sobre o invisível: o "Coração da Aldeota"
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Arquiteta, é idealizadora do Estar Urbano - Ateliê de Arquitetura e Urbanismo, que já recebeu oito premiações na Casa Cor Ceará. Docente da Especialização em Arquitetura Sustentável da Universidade de Fortaleza (Unifor)

A lente sobre o invisível: o "Coração da Aldeota"

Laura Rios, arquiteta cocriadora da Estar Urbano (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Laura Rios, arquiteta cocriadora da Estar Urbano

Em todas as grandes capitais do Brasil, vemos a desigualdade social escancarada na própria paisagem urbana que se configura. Aquelas que têm uma geografia mais acidentada, como Rio de Janeiro, BH, SP, enfim, os morros em geral, concentram-se as grande favelas do País. E por esse aspecto de ficarem no alto das nossas vistas, são obrigatoriamente parte da nossa paisagem, até das varandas mais privilegiadas.

Mas, em Fortaleza, não é bem assim. Nossa cidade é plana, espraiada até demais, com desenho dominantemente cartesiano e cheio de vazios urbanos. As nossas favelas não são tão grandes, mas são muitas e estão presentes na malha de quase todos os bairros de Fortaleza. Comunidades como Pau Fininho, Gengibre, São Vicente de Paulo, Serviluz e Verdes Mares, por exemplo, permanecem resilientes em meio a terras mais nobres da cidade, contudo limitadas não só por margens físicas, mas também pelo estigma como locais geradores de violência, tráfico etc.

Mas as comunidades não são as geradoras da violência e, sim, os que sofrem com ela, porque estão em situação de muito mais vulnerabilidade a ações de facções do que a sua vizinhança. O que não se vê é que essas comunidades são formadas, em sua maioria, por trabalhadores e pequenos serviços que atendem a toda vizinhança de maior poder aquisitivo. Sabemos que a invisibilidade sofrida por essas comunidades é ainda, em parte, resquício da nossa herança cultural escravocrata. Mas a manutenção desse sistema é de inteira responsabiidade dos cidadãos da conteporanealidade.

O ponto é mudar o olhar sobre elas. Pois são locais valiosos que estão desassistidos de infraestruturas de que a sua vizinhança imediata goza. Isso é injustificável. Pela quantidade de trabalhadores que moram nesses territórios extremamente adensados, o justo seria, por exemplo, serem prioritários na prestação de serviços públicos. A mudança de olhar se inicia por seus vizinhos imediatos, a exigir a equidade nas margens da mesma rua. A conhecer por dentro essas comunidades, consumir seus produtos, serviços, criar laços. Nos entender como bairros não segredados por ricos e pobres, mas unidos pelo elo com o local, com o mesmos interesses em comum. n

 

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