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Atriz Fernanda Quinderé celebra posse na Academia Cearense de Letras
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A jornalista, poeta e escritora Lêda Maria escreve sobre política, cultura e sociedade. É autora de duas edições do livro ''Memória Gastronômica das Famílias Cearenses'' e participante de várias antologias nacionais e internacionais, como ''A Literatura das Mulheres da Floresta'' e ''Assim Escrevem as Brasileiras''.

Lêda Maria comportamento

Atriz Fernanda Quinderé celebra posse na Academia Cearense de Letras

Em entrevista poética, Fernanda Quinderé, nova imortal da Academia Cearense de Letras, reflete sobre trajetória e carreira
Atriz Fernanda Quinderé, que acumula amplo currículo artístico, relembra a própria história por meio de poesias (Foto: Samuel Setubal
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Foto: Samuel Setubal Atriz Fernanda Quinderé, que acumula amplo currículo artístico, relembra a própria história por meio de poesias

Fernanda Quinderé lembra muito estes ventos de setembro. Sopram fortes durante o dia e suspiram segredos pela madrugada. Tem momentos que nos deixam respirar forte, recusando passadas lentas e facilitando a liberdade dos cabelos voando em desalinho. São ingratos ao passar pelos jardins e pelos espaços verdes do Parque do Cocó, onde eles não deixam serenos o desabrochar da rosa e aguçam o grito das folhagens, recolhendo-se e temendo serem colhidas em sua velocidade.

Mas, mesmo temidos, em suas características de mando pela natureza, são os ventos de setembro. Eles vão e voltam fundindo-se em ruídos infantis, robustos, incontidos, destemidos, provocando uma alegria grave entre as crianças brincando de soltar pipas ou dançar na liberdade de seus acenos. São azuis os ventos de setembro. E azul é também Fernanda, igualmente mantendo seus sopros fortes de criatividade, liberdade e querer bem.

Mantendo sua velocidade que não para, nem diminui no tempo, pelo tempo vivido. Fernanda, que escuta e mergulha em fontes de água límpida, contemplando o arco-íris, a beleza de cada amigo e o desabrochar de beleza colhido em cada filho.

Fernanda chega agora entre as estrelas. Assume mais uma academia, que é a de Letras, celebrando o certo dos seus desejos e assistindo a um sonho pertencer ao verbo realizar, habituando-se ao possível, ao caminhar pelas manhãs em lírios e corredores de orvalho. Mas, Fernanda é feita de lutas, daí poder alcançar a noite, as madrugadas, os espinhos, iluminada pelas estrelas, convidando-a para suas fileiras, ela, a Fernanda altiva, corajosa, ardente, espontânea. Fernanda, mãe, atriz, escritora, amiga dos amigos, amada e amante das ventanias e/ou do silêncio da madrugada.

Fernanda, nova imortal, chegando faceira e alegre, com uma bagagem de escritos valorizando a vida e os títulos, para sua nova missão na Academia Cearense de Letras, fundada há 130 anos, sendo a primeira do País.

O POVO - Quem é você?

Murmúrios

-Olho-me no espelho

Vejo-me outra

Enigmas de um tempo meu.

Ouço murmúrio da minha alma

Finjo que não escuto.

Ouço de uma cachoeira

Nascida da pedra de onde eu vim.

Firme, livre como o sol

Despida como a natureza

Que fala a língua dos Deuses

Simbólica no tempo do amor

Em que fui e sempre serei

À mercê dos sonhos.

OP - Existem muitas paixões?

Paixão inconfessa

Abro o decote da minha alma.

Mostro meu coração sangrando.

Minha boca oca de paixão

Oncita o gesto suicida.

Minhas mãos

Invadem o seio

Rasgam

O que resta em mim

Desta paixão. Inconfessa.

OP - Quais as suas tristezas?

Dores do tempo

Vivo as dores do tempo

E o soluço compulsivo das estrelas.

Sinto tristeza do mundo

E bebo as astúcias da noite.

À tarde,

As manhãs me angustiam.

O sol

Das noites escuras queima meus olhos azuis.

E a grande flor do meu corpo

Pulsa ausência de amor.

Não há saudade

Apenas desassossego

À espera do que virá

Na solidão dos meus dias

Que se vão. Que se vão...

OP - É possível batizar um prazer?

Um dia azul

Quando acende-me o desejo.

Tal o teu desejo

De ter-me em ti

Meu corpo transpira. Sal.

Bebemos então o mel

Ao sentirmos relâmpagos

Tantos quantos tivemos. Juntos

Naquele dia azul

Quando batizei o prazer

De ter-te em mim

Sem maldizer

O pecado da traição.

OP - Dizem que você já planejou "sua partida"?

Em tempo

Se eu morrer amanhã

Amarrem meus pés

Nas raízes do tempo

Deixem meus cabelos soltos

Aos ventos de agosto à contra-gosto

Da liberdade que nunca tive.

Fechem meus olhos

Sob as ordens da eternidade

Para que eu enxergue

A imensurabilidade

Da solidão que sempre tive.

Libertem minhas narinas

Das flores, odores das velas. Das coroas, dos louros

Que só agora tive

E quando eu gemer de saudades

Enxuguem lágrimas

Nas estrelas

Do meu universo

Para que se tornem poças de luz

No azul da minha poesia morta.

 

Foto do Lêda Maria

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