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Papa Francisco: comunhão maior com o amor e a alegria
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A jornalista, poeta e escritora Lêda Maria escreve sobre política, cultura e sociedade. É autora de duas edições do livro ''Memória Gastronômica das Famílias Cearenses'' e participante de várias antologias nacionais e internacionais, como ''A Literatura das Mulheres da Floresta'' e ''Assim Escrevem as Brasileiras''.

Lêda Maria comportamento

Papa Francisco: comunhão maior com o amor e a alegria

Ele estava, não pertencia ao mundo. Hoje está na paz e de todos nós ganha o amor e a gratidão ao que fez à humanidade e a todos os seres vivos.
Francisco chegou como um vendaval (Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP)
Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP Francisco chegou como um vendaval

ELE era a Paz e o Amor. O sorriso e o abraço. Ele estava, não pertencia ao mundo. Hoje está na paz e de todos nós ganha o amor e a gratidão ao que fez à humanidade e a todos os seres vivos. Hoje, dois bilhões de católicos aos redor do mundo vivem um luto jubiloso, assumem a partida de alguém que, de tanto nos amar, acompanhou a Páscoa recebendo a graça da Ressurreição, seguindo para a Casa do Pai e levando o amor dos que se sentiram por ele compreendidos e acolhidos.

Francisco, dois Franciscos e uma só história. Era o ano de 1205, quando um jovem filho de um rico comerciante de Assis, na Itália, tinha o coração inflamado pelas batalhas e as glórias terrenas. Vagava inquieto e vaidoso, quando de repente viu-se consumido por uma busca mais profunda. Ao entrar na Capela de São Damião, ajoelhou-se diante do crucifixo e, entre o silêncio dominante, escuta uma voz dizer: "Francisco, vai, larga tudo e reconstrói a minha igreja que está em ruínas...". Hoje, quando se avalia a caminhada de um homem simples, sorriso farto e gestos firmes, acompanhamos outro Francisco, encerrando sua missão de papa, missão na qual ele foi um sopro de misericórdia, reconstruindo outro universo, desarmando as muralhas do preconceito e alargando as portas da igreja. Ele chegou como um vendaval sobre as estruturas estáticas do catolicismo, assumindo a cátedra de Pedro com um olhar atento e amoroso, atravessando as convenções e, com um coração de bondade e compreensão, sonorizado pela sua capacidade de ouvir antes de julgar, percorreu o mundo e cativou corações de todos os credos, idades e raças.

Francisco chegou como um vendaval sobre as estruturas estáticas do catolicismo(Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP)
Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP Francisco chegou como um vendaval sobre as estruturas estáticas do catolicismo

Acolheu os pecadores, os esquecidos e os rejeitados. Defendeu a natureza. Escreveu livros e encíclicas, mudou regras e roteiros, administrou conflitos dentro da igreja e fora dela. Trocou o peso da lei pela leveza da graça. Distribuiu bênçãos e sorrisos. Estava com 88 anos.

Nestes dias, quando os sinos e as orações parecem ensaiar o silenciar a sua despedida, contemplamos este Francisco missionário, autor daquilo que os fariseus mais temem, a acolhida, em vez da exclusão. Este Francisco, mantendo um inverno de bondade, trabalhando intensamente não na construção de muros, mas de pontes e insistindo em todas as caminhadas em anunciar e praticar: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa Paz, onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver discórdia que eu leve a união...". O Francisco de Assis e o Francisco Papa fazem nossa oração de amor e esperança, entre a ladainha da simplicidade e o cântico da alegria.

O papa Francisco fica diante de relíquias de santos exibidas ao lado do altar antes de uma missa de canonização na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 15 de maio de 2022, criando 10 santos, incluindo o indiano Devasahayam, o eremita francês Charles de Foucauld e o teólogo holandês Titus Brandsma.(Foto: VINCENZO PINTO / AFP)
Foto: VINCENZO PINTO / AFP O papa Francisco fica diante de relíquias de santos exibidas ao lado do altar antes de uma missa de canonização na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 15 de maio de 2022, criando 10 santos, incluindo o indiano Devasahayam, o eremita francês Charles de Foucauld e o teólogo holandês Titus Brandsma.

Para dom Gregório Paixão, arcebispo de Fortaleza, "o papa recuperando-se da sua grande enfermidade mostrava desde a última semana que mantinha o sopro da vida. E foi a um presídio sentir o drama e a dor de todos ali alojados. Domingo de Páscoa fez a sua própria programação. Era seu último momento, era sua última aparição na Praça de São Pedro. Passava seu olhar que refletia ser direcionado para cada pessoa. Papa Francisco deixa um legado muito grande firmado em três palavras: amor, esperança e misericórdia. Trabalhou ao longo dos anos para despertar na igreja uma grande alegria no contato com Deus e os irmãos", afirmou. "Ele foi um homem sem medo combatendo as guerras, a fome e a marginalidade", lembrou dom Gregório, acrescentando que, "sempre que o papa se dirigia ao seu rebanho, ressaltava ser importante conhecer o outro, compreender, ajudar e abraçá-lo".

Monsenhor João Jorge Corrêa Filho, vigário geral da Arquidiocese de Fortaleza e da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes: "Papa Francisco exerceu sua missão de confirmar seus irmãos na fé, missão como como o próprio Jesus Cristo delegou para São Pedro. Deixa seu modo simples de ser, de falar, de se reportar, sua afabilidade e gentileza. Para o Brasil ele sempre teve um olhar muito especial, concedendo alguns privilégios como a entrega de um navio hospital que doou para a população necessitada da Amazônia que está aos cuidados dos Franciscanos", informou monsenhor João Jorge.

O Papa Francisco está reunindo bispos católicos no Vaticano para defender as comunidades indígenas isoladas e em situação de pobreza da Amazônia, cujo modo de vida está ameaçado (Foto de Andreas SOLARO / AFP) (Foto: Andreas SOLARO / AFP)
Foto: Andreas SOLARO / AFP O Papa Francisco está reunindo bispos católicos no Vaticano para defender as comunidades indígenas isoladas e em situação de pobreza da Amazônia, cujo modo de vida está ameaçado (Foto de Andreas SOLARO / AFP)

José Luís Lira, professor e comendador da Santa Sé conta algo importante. "O papa Francisco deixa um legado muito grande para o Ceará, principalmente na questão da santidade. A autorização da abertura da causa de beatificação do Padre Cícero Romão Batista, e antes da sua reconciliação com a igreja, é um legado perene e que ficará para sempre nos nossos corações. Ele autorizou também no seu pontificado a abertura da causa de beatificação e de canonização do servo de Deus, o Mons. Joaquim Arnob de Andrade, do servo de Deus, o Mons. Valdir Lopes de Castro. Autorizou a beatificação da Menina Benigna, a Mártir Benigna, a Mártir da Castidade, na Região do Cariri. E por último, final de março autorizou o Decreto de Venerabilidade do Pe. José Antônio de Maria Pereira Ibiapina, sobralense que fez do Nordeste seu centro de missão. Então, para além dos imensos legados e da luta pela paz que forma constante dele, ele nos oferece essa possibilidade de contemplar com mais clareza a santidade católica".

Para nós, rotarianos, o papa Francisco esteve bem perto de Rotary. Quando cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio recebeu o título de Rotariano Honorário do Rotary Club de Buenos Aires, capital da Argentina, em 23 de julho de 1999. Este reconhecimento lhe deu a oportunidade de ser o primeiro pontífice conhecido em aceitar uma comenda rotária. Sua relação com Rotary International se fortaleceu ao passar dos anos. Em 2016, como papa, convidou uns 9.000 rotarianos de mais de 80 países a uma audiência do Jubileu na Praça de São Pedro, onde destacou a importância da paz, da solidariedade e a erradicação da pólio.

Papa empenhado  na luta ao combate da Poliomielite(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Papa empenhado na luta ao combate da Poliomielite

Testamento do Santo Padre Francisco

Papa Francisco

Miserando atque Eligendo

Em Nome da Santíssima Trindade. Amém.

Sentindo que se aproxima o ocaso da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar a minha vontade testamentária somente no que diz respeito ao local da minha sepultura.

Sempre confiei a minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem, esperando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.

Desejo que a minha última viagem terrena se conclua precisamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde me dirigia para rezar no início e fim de cada Viagem Apostólica, para entregar confiadamente as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo dócil e materno cuidado.

Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho do corredor lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza desta mesma Basílica Papal, como indicado no anexo.

O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus.

As despesas para a preparação da minha sepultura serão cobertas pela soma do benfeitor que providenciei, a ser transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e para a qual dei instruções apropriadas ao Arcebispo Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Cabido da Basílica.

Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e que continuarão a rezar por mim. O sofrimento que esteve presente na última parte de minha vida eu o ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos. Santa Marta, 29 de junho de 2022

Hoje, Sua Santidade, o papa Francisco começa a ser velado na Basílica de Santa Maria Maior, onde será sepultado. Os veículos de comunicação pelo mundo inteiro acompanham tudo e sabem ressaltar a história desse líder maior trazendo para a vida a celebração permanente do amor ao próximo. Ele sempre dizia "rezem por mim". Agora é a nossa vez de pedir: "Papa Francisco, reza por nós".

Rezem por mim, agora é a nossa vez de pedir, papa Francisco reza por nós.(Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP)
Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP Rezem por mim, agora é a nossa vez de pedir, papa Francisco reza por nós.

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