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A sub-representação racial nas eleições municipais
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Cientista política e professora do Centro universitário de Maceió (Unima/Afya)

A sub-representação racial nas eleições municipais

Se nas eleições passadas com o estabelecimento das cotas para candidaturas de pardos, negros e mulheres, ocorreu um boom de candidaturas de pessoas que se autodeclararam negros e pardos, que ficou conhecido como efeito ACM Neto
Tipo Opinião
Lorena Monteiro, cientista política, professora PPGIII do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologia e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL), líder do Laboratório Interdisciplinar em Inovação em Organizações e Políticas Públicas (Labipol) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Lorena Monteiro, cientista política, professora PPGIII do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologia e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL), líder do Laboratório Interdisciplinar em Inovação em Organizações e Políticas Públicas (Labipol)

O fenômeno da sub-representação racial nas eleições é um tema recorrente e que parece que está longe de sair da agenda pública. Ocorre que, mais uma vez, de forma geral, em todos estados da federação, apesar da maioria do eleitorado e da população brasileira se declarar parda ou negra, em termos de candidaturas e de eleitos a população não se viu representada nas eleições municipais.

Se nas eleições passadas com o estabelecimento das cotas para candidaturas de pardos, negros e mulheres, ocorreu um boom de candidaturas de pessoas que se autodeclararam negros e pardos, que ficou conhecido como efeito ACM Neto, nas últimas eleições municipais com a PEC que anistiou os Partidos Políticos que descumpriram as cotas de gênero e racial, muitos que anteriormente se autodeclaram pardos voltaram a se autodeclarar brancos, o que reduziu bastante as candidaturas com recorte de cor e raça.

A questão da autodeclaração continua sendo sensível, como já escrevi anteriormente aqui, porque revela oportunismo político, falta de letramento racial e fraude partidária. Nas últimas eleições municipais algumas autodeclarações de prefeitos reeleitos geraram estranhamento como os casos de Sebastião Melo, reeleito prefeito em Porto Alegre, e JHC reeleito em Maceió, ambos percebidos como brancos, que se autodeclaram pardos. É muito difícil estabelecer regras e controles sobre essas questões, uma vez que declaração racial se refere a como a pessoa se lê e se vê na sociedade.

De todo modo numa sociedade altamente desigual e violenta com pessoas não brancas é necessário que elas ocupem a política. No estado de Alagoas, por exemplo, em que 70% do eleitorado se autodeclara pardo, teve bastante candidaturas, mas apenas se elegeram aqueles autodeclarados pardos que já exerciam vereança ou eram incumbentes à reeleição na majoritária. Ou seja, apenas candidatos já conhecidos, com cargo político e logo, competitivos no pleito eleitoral.

É preciso que os partidos políticos invistam em candidaturas que possam ser competitivas e conquistar o eleitorado. Nesse momento, muito mais do que pensar a qualidade da representação das pessoas não brancas, em termos da substancialidade de suas pautas, mas a pleitear a política da presença, elas precisam estar representadas na política.


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