Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Foto: Samuel Setubal
Parada de ônibus da Av. da Universidade. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
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Homem, qual a sua experiência na parada de ônibus?
Pergunto porque eu não saberia dizer. Tudo que minha experiência alcança esbarra nas minhas coxas, seios e cabelos que esteticamente dizem para alguns: sou uma mulher. Me pareço com o que se pensa que eu deveria ser. Se fosse um homem, minha vivência seria outra.
Talvez me sentisse mais confortável em ver os carros passando sem me assustar quando o homem dentro deles me olha por mais de dois segundos. Talvez não achasse que preciso evitar qualquer conversa com um homem que pede informação. Talvez conseguisse me concentrar tanto no calor, na espera, na fumaça de carburador, que não notasse as buzinas, os psius e outras “comunicações” cafonas e ridículas que só mesmo a auto-estima masculina para explicar como ainda existem.
Foto: Samuel Setubal
Parada de ônibus da Av. da Universidade. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
Homem, estar na parada de ônibus também é cansativo pra você? Ou você é o que está no carro nos encarando enquanto o sinal está fechado? Pergunto porque eu não saberia dizer. Tudo que minha experiência alcança esbarra no meu corpo. No da minha irmã, também, que com 13 anos foi abordada por um idoso que passou a mão no seu colar e perguntou sua história.
A invasão do toque, do olhar, a virada de cabeça ao estilo "O Exorcista", os sons animalescos e piadas. Me pergunto em que mundo isso realmente conquista alguém. E não é nem isso que eles querem, convenhamos. É o constrangimento, a posse que se imagina ter sobre mulheres em seus caminhos.
Vai e vem estamos falando disso, vivendo, lutando nas nossas alçadas. Ainda não descobri alternativa para a parada. Uma amiga diz que carrega uma trava de bicicleta e um spray de pimenta na mochila. Parece tentador, pode salvar minha vida. Mas não fará o mesmo pela moça que está agora virando a esquina enquanto subo na condução que chegou.
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