Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Eduardo Coutinho falava que filmar no Interior era algo único, um espaço que esbanjava suas potências em gestos e saberes. Sempre que viajo, lembro do quanto ele estava certo
Foto: Luana Sampaio
Na saída de Quixeramobim, fotos e conversas.
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Há alguns dias, eu e parte da equipe de audiovisual do O POVO partimos em uma viagem com destino a algumas cidades do Interior no intuito de ouvir histórias e encontrar rastros de um Ceará há 200 anos esquecido. Aquele que não tinha estradas, energia elétrica ou divisas amplamente conhecidas.
Nesse trajeto, escutamos coisas quase sem querer. E vemos, também. Você já pode imaginar as cenas intermináveis de estrada adiante, os caramelos se guardando na sombra do meio-dia, os hotéis de procedência questionável, as motocicletas nada silenciosas. Eu, os fotógrafos Fco Fontenele e Samuel Setúbal, juntamente com o motorista José Maria e o jornalista Demitri Túlio, vimos tudo isso.
No entanto, quero falar que não vi, mas ouvi. Um “dizer” que foi ecoado e que quando me virei para olhar, só dei de cara com aqueles homens que, assim como nós, tinham parado ali apenas para dormir. De um deles, de qualquer um deles, eu ouvi: “Meu sonho era ser um beija-flor, porque dele todo mundo quer cuidar”.
Foto: Luana Sampaio
Gravando em Icó pela primeira vez enquanto ouvimos passarinhos e histórias
Qualquer um, mesmo. De forma proposital, pois são incontáveis as pessoas (os homens) que dariam tudo para serem cuidadas como um beija-flor - embora talvez nem saibam disso. Um beija-flor, que tem carinho no nome e é ave ligeira que desperta amor pela liberdade que é. E é possível que, assim como eu, você já tenha tido vontade de ser uma outra coisa. Mas na impossibilidade, só desejamos ao universo.
E talvez alguém note e escute, escreva sobre nosso o desejo de cuidado que quando precisamos, nem sempre admitimos. É que carinho é fácil e difícil ao mesmo tempo, tal qual o beija-flor. Deles vi poucos na minha vida. Certamente vi muito mais homens que queriam ser cuidados sem dizer. Tenho aqui o nome de todos eles, mas não posso desejar algo pelo outro, embora não possa evitar e querer que aquele homem diga que ele gostaria de ser cuidado, para quem ele deseja receber carinho.
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