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O racismo no futebol argentino escancarado pela seleção nacional
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Lucas Mota é repórter de Esportes de O POVO. Estudou jornalismo na Universidade 7 de Setembro e na Universidad de Málaga (UMA). Ganhou o Prêmio CDL de Comunicação na categoria Webjornalismo e o Prêmio Gandhi de Comunicação na categoria Jornalismo Impresso, e ficou em 2º lugar no Prêmio Nacional de Jornalismo Rui Bianchi

Lucas Mota esportes

O racismo no futebol argentino escancarado pela seleção nacional

Enzo Fernández, titular da Argentina e campeão mundial em 2022, foi protagonista ao abrir uma live e exibir a comemoração, onde se ouviam claramente os gritos racistas e transfóbicos direcionados aos jogadores franceses
Enzo Fernández foi titular da seleção argentina campeã da Copa América 2021 e 2024 e da Copa do Mundo 2022 (Foto: Buda Mendes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
Foto: Buda Mendes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP Enzo Fernández foi titular da seleção argentina campeã da Copa América 2021 e 2024 e da Copa do Mundo 2022

O recente episódio envolvendo jogadores da seleção argentina ao celebrar a conquista da Copa América 2024, com cânticos racistas e transfóbicos, é um triste reflexo de um problema profundo e enraizado no futebol argentino. Esta situação revela uma faceta sombria do esporte, onde o preconceito, longe de ser um problema apenas das arquibancadas, é reproduzido dentro do campo pelos próprios jogadores.

Enzo Fernández, titular da Argentina e campeão mundial em 2022, foi protagonista ao abrir uma live e exibir a comemoração, onde se ouviam claramente os gritos racistas e transfóbicos direcionados aos jogadores franceses. A canção, carregada de insultos homofóbicos, referia-se à origem de jogadores da seleção francesa e atacava diretamente Kylian Mbappé, estrela do time.

A letra é um amontoado de preconceitos, sugerindo que os jogadores, embora representem a França, têm origens africanas, usando esse fato como insulto. A mensagem implícita é que a diversidade de origem é um motivo de desprezo, algo completamente inaceitável e que deveria estar extinto nos tempos atuais.

A atitude de Enzo Fernández é ainda mais chocante considerando seu status de jogador do Chelsea, um clube inglês que possui jogadores franceses no elenco. Entre eles Wesley Fofana, que expôs o vídeo da comemoração argentina no Instagram e resumiu bem o sentimento de muitos ao afirmar: "Futebol em 2024: racismo desinibido".

Após a repercussão negativa, Enzo Fernández pediu desculpas.

Outro ponto que merece destaque é o silêncio ensurdecedor de Lionel Messi sobre o caso. Considerado um dos maiores jogadores de todos os tempos e uma figura de imensa influência dentro e fora do campo, ele optou por não se pronunciar sobre o incidente.

Seu silêncio pode ser interpretado de várias maneiras, mas é inegável que uma declaração de sua parte teria um impacto significativo na conscientização e na luta contra o racismo e a transfobia no futebol.

O aspecto mais preocupante deste episódio é a quase certeza de que dificilmente haverá uma punição severa para os envolvidos. Quem acompanha o futebol sul-americano sabe que casos de racismo são frequentes, seja em competições locais ou internacionais. Times brasileiros, como o Fortaleza, já foram alvos de racismo em partidas na Argentina.

As punições, quando ocorrem, são muitas vezes insuficientes para provocar uma mudança real. Multas leves e suspensões temporárias não são suficientes para desincentivar esse comportamento repugnante. O que se precisa é de uma abordagem mais dura e decisiva, onde clubes, federações e organismos internacionais se unam para erradicar o racismo e todas as formas de discriminação do futebol.

Este incidente deveria servir como um ponto de inflexão. A indignação e a repulsa expressas por jogadores como Fofana e por torcedores de todo o mundo precisam se traduzir em ações concretas. É fundamental que o futebol, um esporte que tem o poder de unir pessoas de todas as raças e origens, seja um exemplo de inclusão e respeito.

O racismo e a transfobia não podem ter espaço no futebol, nem em qualquer outra esfera da sociedade. A luta contra esses males deve ser contínua e implacável. É hora de dar um basta e garantir que o futebol seja, de fato, um esporte para todos.

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