Logo O POVO+
Carmen e um rio que passou
Foto de Lúcio Brasileiro
clique para exibir bio do colunista

Lúcio Brasileiro é memória viva da sociedade fortalezense. Mantém coluna diária no O POVO e programa na Rádio O POVO CBN. É apontado como o jornalista diário mais antigo do mundo.

Lúcio Brasileiro comportamento

Carmen e um rio que passou

Carmen Mayrink Veiga por ela mesma
Tipo Opinião
Carmen Mayrink Veiga, óleo sobre tela (Foto: acervo pessoal)
Foto: acervo pessoal Carmen Mayrink Veiga, óleo sobre tela

O meu nome é Carmen Mayrink Veiga. Fui eleita uma das Dez Mais Elegantes do Brasil e vou contar para vocês, com ajuda do meu álbum de recorte das colunas, o que era viver na alta sociedade naquele tempo.

Eu dirigia um Chrysler que o Tony, meu marido, tinha me dado de presente de casamento. Saía demais e cada circulada repercutia nos jornais. Bons tempos!

Eu só saía de cílios postiços, hoje, com cinco netos, vivo de cara lavada. Tem um ditado que diz assim: Tout/passe, tout/casse, tout/lasse, tout/se remplace. É/a/pura/verdade.

Certa vez, levamos um grupo de amigos para uma ilha que pertencia à família. Os convidados zarpavam do Iate Clube em lancha. Na volta, a nossa encalhou, justo a nossa, com trinta pessoas a bordo, as mulheres, todas chiquérrimas, só fomos socorridos na manhã do dia seguinte.

Devo dizer que então os vestidos de baile eram bordados com caldas enormes. O básico para se ter no armário não podia ficar abaixo de doze tailleurs de inverno, outros doze de verão, e pelo menos oito de baile.

A grife, Dior sempre, que eu comprava na Casa Vogue, o perfume era o Joy, embora minhas amigas preferissem Chanel N° 5. Na época, falo dos anos 50s, o assunto girava em torno do lançamento de uma linha de baby-doll pelo Ives Saint Laurent. Virou uma coqueluche no mundo inteiro. Nada de transparente, porque as pessoas ainda não chegavam a tanto, algumas das blusas francesas já deixavam ver alguma coisa.

Achei divertido ter uma peruca curta, porque o corte da moda era assim, e eu jamais deixaria que aparecessem meus longos cabelos, cuidados pelo magnífico Renaud, do Copacabana Palace.

Usava-se muito chapéu. Por exemplo, em um Chá das Rosas, festa beneficente, todo mundo estava de cabeça coberta.

Realmente saíamos muito. A boate favorita era o Sacha's, que tinha comida ótima e um cantor que fazia sucesso interpretando Cole Porter. Nos fins de semana, o programa era jantar no Country, e depois jogar bridge.

Todo mundo recebia muito, e em minha casa o open house era quase permanente. Havia também o cineminha da Embaixada Americana.

Os colunistas adoravam mexericar. Jean Pochard, por exemplo, do Diário Carioca, escreveu: Comenta-se que a senhora Suzana Porto foi o pivô da separação do casal Eugênio Raja Gabaglia. Outra: A permanência do casal Souza Campos foi tão curta quanto o vestido da Tereza, do qual ninguém gostou.

Em termos de acontecimento, bela Carmen cita a festa que o casal Elizinha e Walter Moreira Sales ofereceu ao presidente do Banco do Exterior da Espanha, Manuel Arburua. Foi uma noite de gala, num cenário pinacotécnico, pois os anfitriões tinham Chagall, Renoir, Van Gough, Matisse e Portinari.

 

Foto do Lúcio Brasileiro

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?