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Quatro danças do Ceará
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

Quatro danças do Ceará

Com o título provisório de "Ainda não", o espetáculo, em tese, foi pensado para questionar os limites da longevidade na dança. Acabou por fazer mais
Tipo Opinião

Você, que nunca ouviu falar em Cláudia Pires, Cláudio Bernardo, Graça Martins e Sílvia Moura, sugiro que repense o seu repertório. São quatro cearenses dançantes, artistas e personalidades, sem os quais, a nossa cena, pelo menos nos últimos 30 anos, teria sido completamente diferente. Pelo fluxo regular de suas poéticas, porém, nunca, os quatro, haviam dividido o mesmo palco a um só tempo. O encerramento da XIV Bienal Internacional de Dança do Ceará, no último dia 7 de abril, reviu essa história, num momento de grande potência, sob direção do coreógrafo piauiense Marcelo Evelin.

Com o título provisório de "Ainda não", o espetáculo, em tese, foi pensado para questionar os limites da longevidade na dança. Acabou por fazer mais. Bem mais. Sim, os corpos envelhecem. Outras virtuoses são possíveis, porém. O registro do corpo velho tem uma força impossível ao corpo jovem. O corpo velho carrega o tempo com ele.

No caso do encontro de Claudinha, Cláudio, Gracinha e Sílvia, a soma beira uns 200 anos de sonhos e de danças os mais distintos. Claudinha dançou com Beto Barbosa. Cláudio, com Béjart. Gracinha é coroada nas danças populares. Sílvia dança as dores dela e do mundo.

"Ainda não" estreou com casa cheia. Difícil segurar as lágrimas. Com uma dramaturgia previsível, ancorada nas vocações e trajetórias de cada intérprete, a montagem explode em emoção cada vez que afirma a urgência de dançar (e viver) junto.

Vê-los, lado a lado, tão diferentes, inclusive no modo como performam suas velhices, é de uma beleza sem fim. A precariedade recorrente do nosso cenário cultural inviabilizou a formação e a continuidade de companhias de dança. Aqui, o imperativo é cada um por si. Infelizmente. É muito mais bonito dançar (e viver) junto.

O futuro de "Ainda não" é incerto. Mesmo que não seja reapresentado, deu um recado lindo. A gente precisa ser ver mais, se encontrar mais, se aplaudir mais. "Ainda não" é um espelho enorme, refletindo um devir coletivo. É uma celebração ao caminhar de quatro artistas (por que só quatro?), ao tempo que é também uma provocação. Quanto esforço Cláudia Pires, Cláudio Bernardo, Graça Martins e Sílvia Moura fizeram para seguir dançando? Por quanto tempo mais ainda resistirão e desejarão dançar? Quem irá dançar quando eles saírem de cena? Pensemos, pois.

 

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