
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia
O que dizer de uma artista que trabalhou com perfis tão díspares quanto Dias Gomes e Whindersson Nunes? Dona Ilva Niño se foi na última quarta-feira, 12 de junho, deixando um legado generoso, construído ao longo de quase 90 anos de vida, com pelo menos 70 destinados à arte. Atriz, sobretudo, importante voz feminina a entoar um sotaque que fez questão de se impor em cena, a pernambucana da cidade de Floresta é representante de uma geração pretenciosa, que quis mudar e mudou, o teatro de Pernambuco e, por extensão, o teatro de todo o Brasil.
Ao lado de Mozart Batista, Ricardo Gomes, Sandoval Cavalcanti, Eutrópio Gonçalves, Múcio Scevola, José Pimentel, Alberique Farias, Luiz Mendonça, Octávio Catanho, Artur Rodrigues, José Gonçalves e Socorro Rapôso, ela foi uma das responsáveis por consolidar um tal de Nordeste nos palcos. Dona Ilva compôs o originalíssimo elenco da primeira montagem de o "Auto da Compadecida". Ainda Nina Elva, para fugir de olhares conservadores de uma Recife da década de 1950, ela inicia sua vida teatral com Ariano Suassuna e, com ele, vive sua primeira glória. Sem ter sido a única, Dona Ilva morreu como a eterna primeira Mulher do Padeiro.
Embora tenha estreado como protagonista (muito obrigado, Leidson Ferraz), no longínquo nove de novembro de 1954, como Antígona, de Sófocles, Ilva Niño reinou, plena, num lugar desconfortável para muitos artistas. No Teatro Adolescente do Recife, sua primeira casa, no Teatro de Cultura Popular, na jornada suada no Rio de Janeiro com o Grupo Chegança, ela coadjuvou sem medo, talvez porque tenha aprendido, desde cedo, que o teatro é uma arte coletiva. Ao lado do companheiro Luiz Mendonça, o Cristo de Nova Jerusalém, o nome de Ilva Ninõ está presente nos momentos políticos e poéticos mais importantes do teatro brasileiro na segunda metade do século XX.
Dedicada ao palco uma vida inteira, tendo fundado em 2003 o Teatro Ninõ de Artes Luiz Mendonça, em homenagem ao marido, onde também dava aulas, Dona Ilva encontrou o grande público graças à televisão. Estreou na TV em 1971 e, até 2019, esteve envolvida em produções as mais variadas. Nunca se furtou ao trabalho, apesar de ter enfrentado estereótipos pesados. Ilva Ninõ escolheu viver de arte e viveu, mesmo quando lhe sobrou dor. É um exemplo, um mito, que agora vira saudade.
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