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Dona Regina, nosso eterno obrigado
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

Dona Regina, nosso eterno obrigado

Maria Regina Picanço Passos é figura central na história da dança cearense, qualquer que seja o fluxo da narrativa que se adote. Não dançaríamos sem Dona Regina. Nunca dançaremos sem ela. Desde muito pequena ela foi estimulada pela família em suas atividades artísticas
Tipo Opinião
Legado de Regina Passos é celebrado por artistas cearenses (Foto: Deivyson Teixeira em 22/02/2013)
Foto: Deivyson Teixeira em 22/02/2013 Legado de Regina Passos é celebrado por artistas cearenses

Poucas vezes, conheci alguém tão ciente de seu lugar e de seu papel no mundo. Dona Regina Passos, que nos deixou no último dia 20 de junho, aos 101 anos, era, ela mesma, muito grata a sua ousadia. Aos 28 anos, casada, mãe de quatro filhos, com a caçula, à época, com cerca de um ano, botou na cabeça que ia viver de dança. Por quatro meses, estudou balé clássico na escola de Tatiana Leskova, no Rio de Janeiro. Desse pouco, quase nada, diante de uma técnica tão complexa, ela fez o suficiente para, no correr dos anos 1950, ensinar Fortaleza a dançar.

Sem nunca ter protagonizado grandes espetáculos, sem nunca ter assinado obras que se projetassem pela singularidade, Dona Regina mudou a cena local da dança com o seu atrevimento comportado. Ela não se via como bailarina, não se via como coreógrafa, mas festejava sua performance como professora. Foi esse o seu lugar e o seu papel por 50 anos. Ao criar a primeira academia de dança, a primeira escola de balé, da Capital, ela regularizou a linguagem clássica entre nós, ao tempo em que formou corpos e, sobretudo, olhares. Sua sala de aula forjou a primeira leva de artistas e públicos para uma dança cênica do Ceará.

Maria Regina Picanço Passos é figura central na história da dança cearense, qualquer que seja o fluxo da narrativa que se adote. Não dançaríamos sem Dona Regina. Nunca dançaremos sem ela. Desde muito pequena, ela teve acesso privilegiado à cultura e foi estimulada pela família em suas atividades artísticas. Era, também, uma Barroso. Sobrinha de Paurilo e Lucy, cresceu ao som do piano. Lucy, diga-se, sempre foi uma grande inspiração para Dona Regina. É que a tia também estudou balé no Rio de Janeiro. Foi aluna da russa Maria Olenewa na década de 1920.

De volta ao Ceará, Dona Lucy funda, em 1933, nossa primeira academia de ginástica, onde também havia espaço para dança. Foi aí que a menina Regina começou a dançar e recebeu seus primeiros elogios. Ao contrário da tia, ela, no entanto, quando sonha com sua escola, queria algo mais especializado. Dona Regina não se contentava com qualquer dança. Ela sonhava com o balé clássico e fez seu sonho virar realidade. A sorte é que nunca sonhou sozinha. Dona Regina cercou-se de muitos e mudou, definitivamente, a vida de outros tantos, enquanto transformava sua própria caminhada. n

 

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