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João Pedro de Juazeiro, do Mauc e do mundo todo
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

João Pedro de Juazeiro, do Mauc e do mundo todo

Quando se abre e ilumina a arte de João Pedro, a UFC cumpre, talvez, sua maior contribuição cultural. É preciso, sobretudo, formar sensibilidades. É preciso olhar museus como salas de aula e artistas como professores
Tipo Opinião
Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro

Eu já usei essa imagem outras vezes, não me canso: Gilmar de Carvalho era uma família. Ao longo de uma trajetória criativa de 50 anos, ele atou e desatou nós, produziu e fez produziu, encontrou e aguçou encontros. Uma de suas crias mais inventivas, meu irmão, o gravador e poeta João Pedro de Juazeiro, está comemorando 60 anos com uma festa linda, cheia de carinho, memórias e matrizes e xilogravuras impressas em diferentes formatos, no Museu de Arte da Universidade
Federal do Ceará.

"Gravar os sonhos do mundo" tem curadoria de Izabel Gurgel, Nícia Bormann e Túlio Paracampos e merece ser visitada um tanto com a calma e um tanto com a agonia da poesia de João Pedro. João fala manso, talha e escreve na delicadeza de um tempo que corre sereno, mas é dono de uma invenção frenética. Mestre do seu ofício, dedicado e generoso, João explodiu sua criação da palavra à gravura, inventando enquanto se inventava, sempre aberto ao novo. João tem essa beleza da tradição popular, terreiro fértil, onde sabedoria alguma nasce da solidão.

Voltar ao velho Mauc para reencontrar João Pedro é como visitar o artista em sua própria casa. É por ali que, ainda na década de 1990, Gilmar, também poeta e estudioso voraz do mundo das xilografias, o introduz no cenário cultural da Capital e instiga o artista a ganhar o mundo. João está no acervo e na biblioteca do museu da universidade faz tempo, tem a UFC como um de seus portos seguros numa travessia com poucos respiros de calmaria. Quando se abre e ilumina a arte de João Pedro, a UFC cumpre, talvez, sua maior contribuição cultural. É preciso, sobretudo, formar sensibilidades. É preciso olhar museus como salas de aula e artistas como professores.

Prosa e abraço dos melhores que já conheci, João, como bendisse Izabel Gurgel na abertura da exposição, no dia 29 de junho, herdou do inesquecível Gilmar de Carvalho, essa missão de cutucar talentos, de fazer desassossegar ideias. Certa vez, acordei com um texto meu publicado em folheto graças a ele. Assim como mexeu comigo, ele tem o dom de mexer com o mundo. A criação de João Pedro é um convite à criação. Uma doce provocação. "Gravar os sonhos do mundo", em cartaz até 3 de agosto, tem esse colorido. Nada instiga tanto quanto o caminhar de um artista tão vivo e potente como João Pedro, também de Juazeiro. n

 

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