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O teatro Celina Queiroz é da cidade
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

O teatro Celina Queiroz é da cidade

Uma feira, um pátio de escola, são, sim, teatros. Ele sabe, também, que a arquitetura especializada, mesmo vazia, comunica. Ela é desejo. É sonho. Um teatro sem uso, de algum modo, põe em cena um teatro possível
Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Magela Lima, jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro

Tem uma imagem muito bonita colocada pelo encenador italiano Eugenio Barba que, dita de um modo reduzido, olha para os teatros, para as salas de espetáculo, como algo além de quatro paredes edificadas. Barba entende que a relação dos espaços físicos com a linguagem é complexa. Ele sabe que a cena é capaz de criar locais de fruição. Uma feira, um pátio de escola, são, sim, teatros. Ele sabe, também, que a arquitetura especializada, mesmo vazia, comunica. Ela é desejo. É sonho. Um teatro sem uso, de algum modo, põe em cena um teatro possível.

Completando 40 anos de atividade, o Grupo Mirante de Teatro volta a ocupar seu palco de origem, o Teatro Celina Queiroz, da Universidade de Fortaleza (Unifor), com uma montagem voltada ao público adulto. "Guerra e Paz", com direção de Hertenha Glauce, que segue em cartaz até o próximo fim de semana, sublinha a potência daquele espaço, com capacidade para mais de 300 pessoas e recursos técnicos arrojados à disposição das criações. O Teatro Celina Queiroz pode e deve dialogar mais com os artistas e públicos da cidade.

Localizado numa instituição privada, o valor maior do Celina Queiroz, porém, está no seu uso público. Do mesmo modo que a Unifor se projeta no campo das artes visuais, promovendo permanentemente exposições de altíssimo nível, seria possível e desejável que trabalhasse assim no diálogo com as artes da cena. O Celina Queiroz está pronto para abraçar parte do teatro cearense que carece de pauta no Centro Dragão do Mar e de estrutura no Teatro São José, por exemplo. A Unifor tem um palco ocioso e a cidade tem muita produção engavetada. Não seria o caso de transformar esses dois problemas numa grande solução?

Aberto, disponível ao teatro real que Fortaleza produz, o Celina Queiroz se tornaria um lugar único na dinâmica cultural da cidade, sobretudo se considerada sua localização na nossa geografia. A trajetória e a especificidade do Mirante, um legítimo grupo amador de teatro, como companhia residente, brilhariam ainda mais no encontro com outros coletivos e outras poéticas. Com isso, o Celina Queiroz se tornaria um espaço vivo e plural, como é a cena de Fortaleza, contribuindo decisivamente para formar e qualificar públicos. É sempre muito bom voltar ao Celina Queiroz. Por mim, eu iria mais. Iria sempre. E não iria só. n

 

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