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As bruxas e o Palácio do Bispo
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia

Magela Lima opinião

As bruxas e o Palácio do Bispo

O apurado da primeira conversa entre José Sarto e Evandro Leitão, no Paço Municipal, não poderia ser mais genial. Futuro prefeito (em tom conciliador): "Não terá caça às bruxas". Prefeito em exercício (em tom sarcástico): "Não tem bruxas"
Tipo Opinião

Rubrica inicial: 16 dias após a definição do pleito, futuro prefeito e prefeito em exercício, rivais de última hora, têm primeira agenda formal. O cenário é a sede da administração. A pauta é o início dos trabalhos das equipes de transição de governo. O clima é de apreensão, tendo em vista a tensão da campanha. Os personagens vestem branco, sinalizando trégua, talvez. Ainda sem a presença da imprensa e rodeados por poucos assessores, eles se cumprimentam burocraticamente. Cabe ao vencedor das eleições, quebrar o gelo da situação.

Futuro prefeito (em tom conciliador): "Não terá caça às bruxas". Prefeito em exercício (em tom sarcástico): "Não tem bruxas".

O apurado da primeira conversa entre José Sarto e Evandro Leitão, no Paço Municipal, terça-feira última, tornado público pelo próprio prefeito eleito, não poderia ser mais genial. A cena, real, tornaria qualquer ficção surpreendente. É louvável a iniciativa de Evandro (ou será se a gente continua chamando de Leitão?) em procurar apaziguar o processo. Fortaleza precisa viver suas escolhas com tranquilidade. Mesmo ríspida, a resposta de Sarto (não mais o da Juju), a seu tempo, também aponta para uma virada de página. É preciso olhar adiante.

Diante da recusa do futuro prefeito em deflagrar uma jornada de caçar às bruxas e da afirmação do prefeito em exercício de que elas, as bruxas, não existem na Prefeitura, Fortaleza pode até sorrir. O episódio, inusitado, inviabiliza (pelo menos dramaturgicamente) uma narrativa muito comum na política. Estratégico, o discurso da "herança maldita" é perigoso. Joga o trabalho para depois. Se não foi feito, que se faça. Se foi feito errado, que se corrija. Fortaleza quer e exige decisões ágeis e que produzam melhorias, sobretudo na vida dos que mais precisam.

A verdade é que a briga entre Sarto e Evandro não é deles e nem tende a perdurar. Até o primeiro semestre de 2022, vale lembrar, eles jogavam no mesmo time. Os dois, inclusive, cumprirão muito bem seus papéis, de prefeito e ex-prefeito, se contribuírem para desatar alguns nós. Dedicar energia a construir oposições violentas onde reinava plena situação até outro dia é jogar contra a cidade. Fabular argumentos para sedimentar desacordos forçados pode minar contribuições importantes, experimentadas nos últimos 20 anos.

 

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