Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
No apagar das luzes de 2024, já com os fogos pedindo para pipocar, José Augusto Lopes se foi. Ficam uma imensa saudade e um legado ainda maior, de um sujeito encantado, extraordinário, e seus 85 anos de vida, 56 dos quais dedicados à imprensa. O jornalismo no Ceará é uma invenção de 200 anos, apenas. O chamado jornalismo cultural, então, é ainda mais recente. Se se fez importante e resistiu entre nós ao longo dos tempos, é preciso reconhecer que o velho Zé Augusto foi peça essencial. Não há como falar em jornalismo cultural no Ceará sem ter no seu olhar uma referência.
Zé tinha um repertório infinito. Viu tudo, leu tudo. Era alucinado por cinema, mas transitou com esmero pelo teatro e pela literatura. Zé tinha um texto limpo, direto, gostoso. Ele escrevia respeitando, a um só tempo, os artistas e as obras que comentava e o público que instruía. Zé tinha um olhar generoso, soube sempre conectar as cenas locais com as cenas do mundo. Para ele, nós também produzimos vanguardas, nós também tivemos musas e gênios. Zé tinha uma régua boa, criticava sem ferir, se entedia, sobretudo, como um agente cultural. Zé gostava de gente, vibrava com talentos.
Tendo começado sua carreira no dito ano que não terminou, Zé acompanhou a televisão se impor, viu os jornais impressos agonizar e sobreviver e lidou de cabeça erguida com a chegada da internet. Reduziu caracteres, sem abrir mão de rigor e poesia. Memorialista sensível, obcecado pelas efemérides, ele nunca foi preso ao tempo. Zé gostava de ver o mundo mudar, não se prendia a saudosismos vazios. Zé gostava da vida e entendia que vida é movimento. Ele sabia transitar como poucos, vivia sem fronteiras. Era de grife e era do povo, do baile de gala e da rua.
Dono de uma timidez particular e um humor fino, Zé era da turma do abraço, somava gerações as mais diversas ao seu lado. Era inteligente, curioso, provocador, fazia jornalismo por prazer, e não por obrigação. Sem saber, era um modelo. Sem se colocar no lugar de professor, ensinava. Sua história, definitivamente, não finda no 31 de dezembro último. Imagina que lindeza seria, governador Elmano de Freitas, o acervo José Augusto Lopes incorporado à Biblioteca Pública? Imagina, reitor Custódio Almeida, a universidade revirando todo esse arquivo? A cultura do Ceará só teria a ganhar.
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