Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Sabe quando a gente escuta uma história e pensa: isso parece um filme? Então. Com "Ainda estou aqui", longa-metragem brasileiro indicado a três categorias no Oscar, a reação é inversa. Não, não é coisa da cabeça de Murilo Hauser e Heitor Lorega, responsáveis pelo roteiro, o que se vê ali. Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, também não é obra da imaginação do escritor o que é narrado. "Ainda estou aqui" é o que é pela potência e singularidade da vida real de Eunice Paiva, mãe de Marcelo, sobrevivente aguerrida da ditadura militar instaurada no Brasil a partir de 1964.
Desde a estreia, há exatos 148 dias, "Ainda estou aqui" vem emocionando plateias de anônimos e especialistas, desnudando o cotidiano de uma família brutalmente violentada, que precisou reaprender a sorrir. Aos 41 anos, já com a filha caçula tendo passado dos 10, Eunice e o marido, o engenheiro e deputado federal Rubens Paiva, cassado pelo regime, viviam dias de alegria solar na praia do Leblon. Até que a ditadura bate à porta dos Paiva e a casa de dois andares localizada na Avenida Delfim Moreira, número 80, fica pequena para tanta dor. Rubens foi preso e morto pelos militares.
Eunice brigou pelo reconhecimento oficial do assassinato do marido e pelo direito de que a aquela e outras tantas violências cometidas pelo Estado não fossem esquecidas. Atrevido, quis o destino que ela morresse em 2018, depois de 15 anos vivendo com Alzheimer. No filme de Walter Salles, Fernanda Torres, que concorre ao Oscar de melhor atriz, faz a Eunice que lembra, enquanto a mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao prêmio na mesma categoria em 1999 por outro trabalho de Salles, faz a Eunice que esquece.
Juntas, avivam a memória de uma mulher encantadoramente real. "Ainda estou aqui" é a história de uma leoa ou camaleoa, de uma mãe, como a minha ou a sua. Exímio diretor de atrizes e de crianças, Walter Salles brilha com um cinema econômico, sem virtuosismos. "Ainda estou aqui" arrebata quando consegue mostrar que o que aconteceu com os Paiva repercutiu e repercute no país inteiro. Os Paiva são o Brasil. É pavoroso o que aconteceu a Rubens Paiva, mas é aquele horror que faz nascer a Eunice que mudou história e agora é aplaudida no corpo de Fernanda Torres. Em Fortaleza, o filme segue em cartaz em 10 salas. Vejam! n
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