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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Teatral. No dicionário, adjetivo: 1. relativo ao teatro; 2. [Figurado] espetaculoso, ostentoso. Assim era seu Ary Sherlock, que nos deixou no último dia 2 de fevereiro, aos 94 anos. Na intimidade, não só nos palcos, o veterano ator era encantadoramente superlativo. Seu Ary transformou a casa numa espécie de antiquário, falava com voz empostada, de locutor, de galã, tinha sempre um acessório extra no figurino e iluminava o mundo com belíssimos e artificialíssimos olhos azuis. Seu Ary naturalizou, como poucos, uma exuberância rara ao cotidiano do mundo dito real.
Ilustre representante de uma cena e um tempo que se esgarçaram, seu Ary somou 70 anos de carreira. Ele começa com uma geração de atrevidos que mudou, em definitivo, o teatro do Ceará.
Seu Haroldo Serra, Hugo Bianchi, B. de Paiva, Marcus Miranda, a turma do Teatro Experimental de Arte, na marra, firmou entre nós os elementos da chamada poética moderna. É daí, por que não, que brotam a Comédia Cearense e o antigo Curso de Arte Dramática da UFC. Seu Ary emprestou seu talento e coragem a todas as novidades que a sina de artista colocou em seu destino.
Cearense de Sobral, ele integrou, com sucesso, elencos de diversas novelas em emissoras de rádio. Quando ninguém sabia nem o que era televisão, lá estava ele, atuando, roteirizando, dirigindo e compondo trilhas de produções de teleteatros e telenovelas, ainda com transmissão ao vivo. Seu Ary também fez cinema e até escreveu para jornais. Foi um homem de mídias, sem nunca ter se distanciado das tradições que o teatro carrega desde muito. Da juventude à maturidade, ele dedicou-se em diversas oportunidades a encenar, por exemplo, a paixão de Cristo.
Para a tristeza do teatro brasileiro, envelhecer em cena é um privilégio. Seu Ary contrariou essa narrativa e renovou públicos e parceiros com o correr dos anos. Quase aos 60, reencontra Haroldo e Hiramisa Serra e a Comédia Cearense em versão de "A Mente Capta", de Mauro Rasi. Aos 80, estreia "Na corda bamba", ao lado da saudosa Dona Antonieta Noronha, com texto de Aldo Marcozzi e direção de Allan Duvale, em produção comemorativa dos 45 aos do Grupo Teatro Novo. Seu Ary deixa esse exemplo de entrega e disponibilidade. Talvez, esteja justamente aí o segredo de uma trajetória tão longa, diversa e exitosa. Bravo, seu Ary! n
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