Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas
Até o ano de 1912, com a inauguração do Campo do Prado, o Passeio Público foi o principal palco das partidas de futebol no Ceará, praticado ainda de forma incipiente
Há 200 anos era deflagrada a Confederação do Equador, movimento revolucionário que uniu províncias do hoje Nordeste contra a centralidade do poder de Pedro I, na monarquia recém-instaurada. Iniciado em Pernambuco, em julho de 1824, possui adesão oficial do Ceará um mês depois. No entanto, desde janeiro do mesmo ano, articulações já aconteciam no território cearense, o que deu à província um protagonismo particular no acontecimento.
Seu desenrolar trágico marca a história de personagens memorados até os dias atuais. Muitos espaços públicos, em todo o estado, levam os nomes de Tristão Gonçalves, Pereira Filgueiras, Pe. Mororó, Azevedo Bolão, Miguel Ibiapina, Pessoa Anta, Carapinima — os cinco últimos marcados pela morte por fuzilamento entre abril e maio de 1825, em Fortaleza, no antigo campo de Pólvora, o hoje conhecido Passeio Público. Este, o ponto de interseção de nossa conversa.
Iniciada a sua construção em 1864, o Passeio Público é a praça mais antiga de Fortaleza. À época, o local dividia-se em três planos, segregando classes sociais. Recebeu vários nomes ao longo do tempo, passando por Campo de Pólvora, Largo de Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital da Caridade, Praça da Misericórdia, sendo oficialmente nomeada de Praça dos Mártires ainda no ano de 1879, em homenagem aos revolucionários, mas até hoje conhecida por Passeio Público.
É neste espaço, marco maior da memória da Confederação do Equador no Ceará, que, de forma inconteste, as duas versões da “origem” do futebol no Ceará acontecem. A primeira, de 1903, quando um time inglês, em excursão ao sul do Brasil, para em Fortaleza e realiza a primeira partida do esporte em solo cearense.
A segunda versão, mais difundida, é atribuída ao estudante José Silveira, que, ao voltar da Suíça, traz uma bola de couro, um livro de regras e organiza, em 1904, entre cearenses e marinheiros ingleses, uma partida que é tida como a primeira oficialmente realizada no Ceará, no mesmo Passeio Público, onde os ingleses levaram a melhor por 2 a 0.
Até o ano de 1912, com a inauguração do Campo do Prado, o Passeio Público foi o principal palco das partidas de futebol no Ceará, praticado ainda de forma incipiente, embora com a marca do extremo elitismo, que só nas décadas seguintes se dissipou e levou o futebol a ser um esporte de todos.
Diante da trágica história cearense de não preservação de seu patrimônio, que dia a dia se amplia, celebrar e defender o que ainda temos é de uma necessidade incomensurável. O Passeio Público, um desses patrimônios, marca em um só sítio a mais importante luta pela liberdade de nosso povo, a Confederação do Equador, como do início de uma de nossas maiores paixões, o futebol.
Assim, é de fundamental importância lembrar tais acontecimentos e espaços dia a dia, que, a querer ou não, seguem cartografados em tantas vivências de nossa própria história, apontando, ali, também, nossa morada.
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