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Desde antes, assim os clássicos!
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Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas

Desde antes, assim os clássicos!

Mesmo quando inventados em um aqui-agora, já não há sentido no mundo sem o seu pra sempre. Tudo a triscar a poeira do big-bang crível
Tipo Crônica
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 18-09-2023: Estreia do novo Trem Bala do O Povo com Alan Neto, Jota Lacerda, Sérgio Ponte e Liuê Góis.. (Foto: Samuel Setubal) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 18-09-2023: Estreia do novo Trem Bala do O Povo com Alan Neto, Jota Lacerda, Sérgio Ponte e Liuê Góis.. (Foto: Samuel Setubal)

Há alguns espectros para entendermos o termo “clássico”, tão utilizado por nós neste campo da crônica esportiva. Um livro, uma tela, um filme, mesmo uma grande jogada, a dobrar gerações, cruza um sentido. O embate de duas grandes forças (dentro ou fora do esporte), já outro.

Venho, a partir deste mote, intersecioná-lo ainda a mais um: o de alguns personagens, que através de suas trajetórias, lotadas de singularidades, alçam, quase de forma osmótica, tal patamar, o de ser um clássico naquilo que se propuseram a fazer.

Recentemente, a cena do futebol vem sendo sensibilizada com a partida de grandes nomes de sua história em um curto espaço de tempo. Em menos de quatro anos se foram Maradona, Zagallo, Pelé, Menotti. Nas últimas semanas, as tão sentidas idas de Silvio Luiz, Antero Greco e Apolinho, num mesmo dia. A nós, cearenses, especialmente, marca-se a partida de Alan Neto, no início de abril.

Pensando em todos esses, principalmente os que alicerçaram parte de nossa paixão nacional no esporte, através da imprensa, o quanto suas formas únicas de ver e dizer o jogo foram fundamentais a nos guiarem para que o esporte viesse a tornar-se mais possível, mais bonito. Eis aqui a minha singela homenagem.

A mim, de maneira especial, marcou um tanto mais, por acompanhá-los mais proximamente, as partidas de Silvio Luiz e de Alan, que, de forma sui generis, partilharam, em suas carreiras, de uma experimentação estética que se parelha, com metáforas inusitadas, hipérboles, no geral, com fino humor, “dizendo sem dizer”, e nos fazendo ver o jogo, tantas vezes visto, como se visto pela primeira vez.

É com essa definição que o professor Carlos Felipe Moisés conceitua a função daquele que faz poesia, que vai muito além apenas do conceito literário que tanto replicamos, de escrevinhador de poemas, mas cabível a todos aqueles que criam. Brinco, dentro desse pensar, que pra ser poeta, então, é preciso ser um encrenqueiro de mundo, barulhando-o como possível a trazer vistas primeiras, mesmo que mofadas pelo tempo. Teria o mundo direito a ficar velho, assim? Creio que não.

E com esses dizeres inaugurais, o mundo vai sendo escrito, e quando se ver, tudo já é desde antes. Assim os clássicos que não envelhecem. Mesmo quando inventados em um aqui-agora, já não há sentido no mundo sem o seu pra sempre. Tudo a triscar a poeira do big-bang crível.

“Os clássicos servem para entender quem somos e aonde chegamos”, diz Ítalo Calvino, e como é bonito pensar isso. Ver a nós mesmos por vias terceiras, tão nossas, que já nem reparamos. Quanto temos de Silvio, de Alan, de Apolinho, de Antero e de tantos outros? Difícil mesurar, afinal todos são desde antes.

Foto do Mailson Furtado

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