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50 anos de futebol total – ou de todos ao mesmo tempo agora
Foto de Mailson Furtado
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Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas

50 anos de futebol total – ou de todos ao mesmo tempo agora

O termo consiste em resumir, de forma concisa, o conceito de que todos marcam e atacam em conjunto e ao mesmo instante
Tipo Crônica
Taça da Copa do Mundo 2022 (Foto: Odd ANDERSEN / AFP)
Foto: Odd ANDERSEN / AFP Taça da Copa do Mundo 2022

E lá se vão 50 anos da Copa do Mundo de 1974. “Mas que graça teria numa copa sem Pelé?”. “O que teria de novo depois de todas as façanhas coletivas vindas do esquadrão de 1970?”. “Um mero campeonato para trazer o saudosismo de um auge quase impossível de alcançar?”.

Debates desses não faltaram à época, e não apenas no Brasil, mas em tantas praças, alguns até hoje. Mas mal saberiam/sabíamos que ali, naquela Copa, algo estava guardado para marcar um novo momento que o futebol já sem Pelé necessitava.

Ali, Rinus Michels e esquadrão laranja da KNVB, com a base do Ajax tricampeão europeu e campeão mundial, com Jongbloed, Haan, Suurbier, Krol, Rijsbergen, Hanegem, Neeskens, Jansen, Resenbrick, Rap e Cruyff, arregalam os olhos do mundo com uma outra forma de lidar com o jogo.

Ali, o futebol total — termo a resumir, de forma concisa, o conceito de que todos marcam e atacam em conjunto e ao mesmo instante — aparece pela primeira vez, sendo o mote maior para o jogo “moderno” praticado até os dias de hoje.

Tantas analogias ao longo dessas cinco décadas foram trazidas para explicar as novas ideias aplicadas por Rinus, mas, de enxerido, gosto de pensar algumas.

Indo para o campo da física, o entendimento que tempo e espaço caminham juntos e se influenciam mutuamente, na experiência que todos os jogadores lotam o máximo de espaço em um mesmo instante de tempo, é fundamental para que o futebol total aconteça. O caos organizado, se comparado a modelos anteriores, é marcante. Isso traz conceitos desde da relatividade de Einstein até a física quântica.

Vindo para literatura, lembro da experiência da poesia iniciada no século XIX, principalmente com Stéphane Mallarmé, a debater que o espaço onde a poesia está e a sua disposição na página influem de forma incontornável o seu entendimento e produção — as letras dançam como se em um palco, a página em branco, lotando-o e equilibrando-o.

Assim, um pouco o que Carrossel Holandês teimou por trazer, visto que se a ela faltava a plasticidade das seleções húngara de 1954 e da brasileira de 1970, afinou a sua aspereza da lida com a bola, mesmo com nomes bastante técnicos em seu plantel, com a sutileza de um conjunto de ideias, que, passados 50 anos, parece tão sempre difícil de mensurar o seu não.

Foto do Mailson Furtado

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