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O Laion e sua Divina Comédia
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Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas

O Laion e sua Divina Comédia

Histórias de quedas de clubes há aos montes, no geral trazidas como máculas às trajetórias centenárias dessas agremiações, mas este caso do Fortaleza é diferente
Tipo Crônica
Torcida do Fortaleza no jogo Fortaleza x Atlético-GO, no Castelão, pelo Campeonato Brasileiro Série A 2024 (Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC)
Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC Torcida do Fortaleza no jogo Fortaleza x Atlético-GO, no Castelão, pelo Campeonato Brasileiro Série A 2024

Dante Alighieri, no século XIV, escreve uma das obras fundamentais da literatura mundial, a Divina Comédia — narrativa que o próprio autor se coloca como personagem em uma travessia na busca de respostas da própria existência, e nele vai desde espaços de lamúria e desespero — Inferno e Purgatório —, para ao fim chegar ao Paraíso e encontrar a luz que sequer supunha possível.

Dentro dessa analogia ao mundo de Dante, não seria exagero traçar um paralelo à história do Fortaleza EC nos últimos 15 anos. De rebaixado à terceira divisão, em 2009, ao suplício de oito anos consecutivos em uma competição com receita mínima para apenas em 2017 vir o tão buscado acesso à Série B. Um ano depois, o título nacional inédito e, em 2019, depois de 13 anos, voltar à elite.

Até aqui, a história de redenção já estava posta, mas mal se sabia o que guardavam os próximos anos — campanhas memoráveis em Copas do Nordeste, do Brasil, Sul-Americana, Libertadores e Campeonatos Brasileiros (no instante em que este texto é escrito, o clube do Pici é líder por aproveitamento da Série A pela quarta rodada seguida).

Histórias de quedas de clubes há aos montes, no geral trazidas como máculas às trajetórias centenárias dessas agremiações, mas este caso do Fortaleza é diferente. E o próprio clube não a nega, pelo contrário.

Não que haja glória ou celebração pela disputa por quase uma década de uma subdivisão do futebol brasileiro, mas há, sim, um orgulho pela redenção como se deu e segue, de forma séria, honesta, feita pelo entender do próprio encontrar-se, vezes possível apenas pelo vivenciar de grandes dificuldades, para assim mirar a luz que ainda sequer supõe-se.

Assim, tal como traz Dante, vivenciar o Inferno se faz necessário para que o Paraíso faça sentido. Dentro dessa narrativa, a primeira parte, inegavelmente, o Fortaleza já viveu, e parece que o encontro do final marcado à luz não tardará a se pôr por total visível. Que siga a caminhada.

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