Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas
Campeonato Cearense 2025 começou nesse fim de semana. E tal qual nos últimos 30 anos, o favoritismo é da dupla do Clássico-Rei
Era dezembro de 1995, e o Ferroviário, após um empate com o Icasa em 0 a 0 no PV, festejava o seu nono título cearense em um bicampeonato inédito na sua história. Era a primeira vez desde 1956, quando o Calouros do Ar foi campeão, seguindo o título do Gentilândia em 1955, que o Campeonato Cearense passava dois anos seguidos sem ter Fortaleza ou Ceará como campeões.
O fim da década de 1980 e o começo da de 1990, com os três títulos do Ferroviário (1988, 1994 e 1995) e o campeonato mal resolvido de 1992, terminado em 1993 no tapetão com quatro campeões, levou o vislumbrar de uma mínima abertura para uma descentralização do futebol cearense, historicamente marcado pela hegemonia da dupla Ceará-Fortaleza.
Passados 30 anos da volta olímpica do Tubarão da Barra em 1995, mal se poderia imaginar que aquela seria a única desde então de um clube que não dos dois maiores da Capital. A descentralidade que se apontava não só degringolou, como a hegemonia da dupla se firmou como a maior da história recente dos campeonatos estaduais no Brasil, sendo superado apenas para o monopólio de 43 anos da dupla Grenal no Gauchão (1955–1997).
Das últimas 29 edições (1996–2024), foram 16 títulos do Leão do Pici e 13 do Vozão de Porangabuçu. Em nenhum outro campeonato do Brasil recentemente aconteceu algo parecido. Iniciada a edição 30 no último fim de semana, nada leva a crer que tal soberania venha ser quebrada.
Em um momento onde o poderio econômico traduz a força no futebol dentro de campo, Ceará e Fortaleza estão, de longe, em outra prateleira em relação aos demais clubes do Campeonato. A nível de comparação, a maior folha salarial, a do Fortaleza, é em média 40 vezes maior que a dos outros oito clubes, enquanto a do Ceará, 30 vezes.
Da mesma forma que celebramos o crescimento da dupla Leão-Vozão ao longo da última década, levando o futebol cearense ao seu melhor momento da história e o firmando em outro patamar a nível regional e nacional. O mesmo debate é válido para apontar o estacionar ou mesmo regredir dos demais clubes do Estado. Clubes tradicionais como Ferroviário, Icasa, Guarany de Sobral, entre idas e vindas ao longo dos anos, amargam o pouco valioso mérito de coadjuvantes, e sem a mais remota expectativa, que tal cenário mude.
Há alguém que aposte que o Manjadinho não siga nesse par-ímpar ainda por muito e muito tempo? Eu nem de longe vislumbro uma mudança. Mas sigamos a acompanhar. Afinal, se tem algo que não permite o duvidar de surpresas, esse é o futebol.
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